sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Das obrigações de Natal: demonstrar que gosta e se importa com o pai, mesmo que não seja exatamente uma verdade.

Meu pai e eu nunca fomos próximos, em nenhum momento desse período de três décadas que costumo chamar de vida. Não sei exatamente por qual motivo. Sei que meu irmão mais velho sempre foi (e ainda é) o mais apegado ao pai e eu e meu irmão mais novo somos mais íntimos e afetivos com nossa mãe.

Mas eu sempre respeitei meu pai, porque ele era um exemplo de honestidade sem máculas, daquele tipo que volta ao mercado para devolver R$5,00 a mais que o caixa eventualmente lhe devolveu de troco. Daquele tipo que, apesar de conhecer o capitão do Tiro de Guerra, não é capaz de dizer 'olha, meu filho vai se alistar, dá um jeito de ele não servir', simplesmente por ser honesto e não querer descumprir com os critérios já estabelecidos para o alistamento militar.

Aí com o tempo a família descobre que ele não era esse exemplo todo de honestidade no relacionamento com minha mãe. Um dos poucos motivos de admiração que eu tinha desmorona e ele passa a ser um homem normal às minhas vistas.

Não o odeio. Mas ele é isso aí: normal. Ele tem se esforçado para ser próximo dos filhos, especialmente depois da separação dele e da minha mãe. Mas sabe quando você não consegue, por mais que tente, ser íntimo de alguém assim, do nada? Laço de consanguinidade definitivamente não diz lá muita coisa nesses assuntos de família; se pensar bem, nem o mesmo tipo de sangue nós temos (eita que senso comum mais besta, Juliano).

E aí vem o Natal, época dos perdões e amor nos corações e tudo isso. E a obrigação de me encontrar com meu pai, já que afinal foi ele quem me ligou para convidar para jantar fora, foi ele quem me adiantou uma grana quando eu estava precisando desesperadamente há dois meses e foi ele quem sempre forneceu conforto material durante toda minha vida.

No próximo post conto a vocês como foi o encontro. Não chego a estar ansioso ou irritado. E o jantar vai ser numa churrascaria bacana e ele já deixou claro que filho dele nunca vai pagar a conta quando ele estiver junto. Pelo menos vai valer pela boca livre.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

"O o o o o" "O GRINCH!" [Ou um auto-retrato meu]

Ontem, durante a mensagem ecumênica + auto de natal no meu trabalho, confesso que fiquei pensando no quanto a história que deu origem ao cristianismo é épica. Tem elementos das melhores tramas, é cativante e você fica realmente comovido com algumas das cenas.


Um povo oprimido por um governante de outra nacionalidade, sem autonomia política, pagando impostos e tendo que fazer coisas sem lógica apenas para satisfazer um capricho do imperador, como viajar nãoseiquantos quilômetros com uma esposa grávida só para ser recenseado. Aí a esposa entra em trabalho de parto e por falta de lugar para se hospedar, acaba parindo o filho entre animais.

(Não vou entrar aqui no mérito das questões de fé, como a concepção virgem e a anunciação, minha intenção não é discutir religião em si. Mas sim, imaginem o quanto José deve ter sido chamado de corno por aceitar casar com uma mulher já grávida)

Sim, a história é emocionante e envolvente. Aí beleza, teve as mensagens dos pregadores de três religiões diferentes, teve o auto de natal...

E AÍ COMEÇOU A DEMAGOGIA DE DIZEREM QUE "AQUI NO TRABALHO SOMOS UMA GRANDE FAMÍLIA"

Olha, sabe quando você observa uma gravura LINDA de morrer e de repente parece que alguém pegou uma caneta e riscou bem na cara de alguma das pessoas retratadas? Então.

Não, por favor. Trabalho é trabalho, família é família. Amigos são amigos. Você pode até trabalhar com pessoas da sua família, se tornar amigo de algum colega de trabalho ou um amigo seu pode vir a ser parte da sua família. Mas não. Esse conceito de "aqui é uma família" está muito equivocado.

Estragaram uma das poucas chances de eu me sentir novamente à vontade com mensagens de Natal, obrigado.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Esta semana meu terapeuta me sugeriu que fizesse um teste: organizar a rotina diária por pelo menos 7 dias, de forma que eu faça tudo o que eu preciso fazer. Exercícios físicos regulares, alimentação equilibrada, horas suficientes de sono à noite, redução de estresse...

De sexta para sábado dormi 4h. De sábado para domingo, 5h. Ontem era para ter começado a caminhar. Não fiz almoço em casa (embora no restaurante tenha enchido meus estômagos de folhas e grelhados e nada de carboidrato).

Comecei muito bem a cumprir com a tarefa, vaidizê.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

É um duro combate esse de lutar contra os hábitos tão cimentados no nosso repertório. Mudar hábitos normalmente é uma troca entre a satisfação de um prazer imediato, momentâneo, por um igualmente momentâneo desprazer. Pelo menos na hora do esforço de mudança de comportamento, sobrevem o desgosto, mesmo que depois você se dê conta de que a troca de um hábito por outro (ou pelo silêncio/não-ação) foi saudável para si mesmo e para a sua relação com os outros.

Essa semana, em uma mesa de bar, três pessoas conversávamos. Aconteceu de os três estarmos empolgados planejando uma viagem para o próximo ano e para um lugar que eu já fui e tenho, modestamente, bastante conhecimento. Eis que, no auge da minha empolgação, fui atravessado por um dos interlocutores, que passou a requerer para si o holofote. Com um assunto completamente alheio ao que tratávamos, o que ficou parecendo aquele arranhado da agulha do toca-discos sobre o LP, quando da troca por outro disco.

Optei por me calar, em vez de fazer o que normalmente eu faria: aumentar a voz e dizer "ENTÃO, COMO EU ESTAVA DIZENDO..."

Tive a atenção da plateia abruptamente arrancada. Na hora, o que me veio à cabeça é: será que só eu achava que estava agradando e na verdade não estava e eu sou apenas um chato repetitivo? Preferi não competir por atenção. Vou ter momentos oportunos para voltar ao assunto e para ser laureado pelos outros pelo meu savoir-faire.

Mas confesso que fiquei magoadinho. Mágoa de histérico, sabem? Aquela que dá vontade de fazer um bico e não mais me pronunciar pelo resto da noite. Mesmo a mágoa passou e agora eu sei que calar-me foi a melhor opção. Qual seria meu troféu, caso eu "ganhasse" a atenção dos interlocutores? Nada muito edificante, de todo jeito...

Estarei finalmente amadurecendo? Tomara, tenho 32 anos e uma hora isso tem que acontecer. Fiquem atentos para mais bons comportamentos meus.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Neste fim de semana me lembrei de quando voltamos da Bahia para o Paraná, para morar por um ano em Guarapuava.

Mais de 2.500km em um carro com pai+mãe+avó+irmão+eu e chegamos naquele lugar desconhecido. A cidade ainda tem um ar de província, com uma pequena área no centro que ainda preserva o casario da época que o lugar era uma parada de tropeiros, ruas de paralelepípedo, uma igreja matriz com toda a pompa colonial de ser uma imitação muito exagerada (beirando o cafona) da catedral na capital, as feições das pessoas que lembram uma vila da Europa Oriental. Tudo muito diferente da árida Chapada Diamantina, onde eu tinha morado os três anos anteriores.

Vista da Igreja Matriz de Guarapuava

Construção do século 19, centro de Guarapuava.

E exatamente no dia da chegada, tive uma das minhas muitas manifestações de enjoo. Enquanto todo mundo foi para a casa nova, apreciar o que eu considero como o lugar mais aconchegante que eu já morei e correr atrás de prepará-la para a chegada da mudança, fiquei trancado no quarto do hotel, esverdeado, vomitando o que não tinha mais no estômago.


Acho que meu corpo nunca lidou bem com mudanças. Talvez eu só vá ter tranquilidade quando eu puder nunca mais passar por surpresas na vida.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Vamos falar em morte? Sem tristezas nem preconceitos?

Seguinte: com o avanço dos anos, é lógico que cada um de nós está mais próximo, pelo menos estatisticamente, do fim da vida. E por mais que seja um tabu, uma dor, uma ferida, uma perda etc., a morte é *ATENÇÃO PARA O CLICHÊ DOS CLICHÊS* realmente a única certeza que qualquer ser humano pode ter a respeito da sua vida.

(Clichês existem e sim, muitos deles são verdadeiros. Me processem)

Enfim, por mais que nós, assim como alguns personagens míticos modernos das sagas O Senhor dos Anéis e Harry Potter, tentemos enganar a morte, um dia ela vem. E por que não pensar nela antes que aconteça?

O fato é que, devido a algumas condições de saúde pelas quais passei esse ano, tenho me percebido bem interessado no assunto. Encontrei alguns sites de planos funerários e fiquei intrigado (e confesso que até achei divertido) com a chuva de eufemismos para lidar com o assunto. Tais como:

"Plano de vida" em vez de plano de assistência funerária

"Local de descanso final" em vez de cemitério, urnário, ossário etc.

"Salão de despedida" em vez de capela ou salão mortuário

Além dos eufemismos, achei engraçados alguns termos e conceitos, tipo a lanchonete de um cemitério de Goiânia, batizada de "Café com Orquídeas". E este cemitério, é lógico, nem é chamado de cemitério, no site você encontra o termo "Complexo de Cerimoniais".

Como se quisessem maquiar a morte. Belos jardins à beira de um lago no centro do "complexo", vários pequenos quiosques pergolados com flores trepadeiras fazendo sombra, quase uma visão de um jardim inglês do século 19. As recepções das salas de velório parecem mais com consultórios de clínicas de beleza, com muito mármore e granito, não daqueles escuros, encontrados em cemitérios tradicionais, mas pedras brancas, bem polidas, carrara, travertino e similares.

Eu diria até que é quase como se quisessem que os familiares, amigos e eventuais puxa-sacos do morto pudessem passar uma agradável tarde em um SPA urbano, tomando chá com petit-four no jardim de inverno, debaixo do pergolado à beira do lago.

Não que a dureza e a tristeza da morte devam ser enaltecidas. Mas não acho de bom tom esse faz-de-conta que o morto só está repousando numa bela campina.

domingo, 27 de novembro de 2011

Em 1994, no ano em que moramos em Guarapuava, minha mãe e meu irmão mais novo trouxeram uma gata para casa. Batizada de Mitch. Ou Mitchó. Ou Titchó. Ou Tió. Ou Gato (no masculino assim mesmo). Ela atendia por qualquer nome que a chamassem, parecia.

Eu tinha 15 anos, foi o ano do meu primeiro beijo, o ano em que 4 Non Blondes estourou nas rádios com What's Up e o ano que meu pai se aposentou, acabando com as mudanças de cidade que eram mais ou menos comuns até então.

Nesse ano, recebemos a visita do Tio Lalau, de Londrina, irmão da minha mãe... do meu irmão mais velho, que já morava em Maringá... da minha tia-avó de Curitiba...

Foi o ano da mudança de moeda, eu lembro que estava em Curitiba com minha mãe e ela foi ao banco trocar os vários milhares de Cruzeiros da carteira. Trocou por 26 reais e 17 centavos PENSA.

De Guarapuava, mudamos para Maringá. Minha avó, que morava conosco, morreu em fevereiro de 1997. Pouco tempo depois, veio o meu outing semi-obrigatório, quando descobriram correspondências que eu tinha com um "amigo especial" de Curitiba (um beijo para você, Marcelo Luís *-*). Houve muito choro, muita culpa, muita acusação, muita coisa que merece um post só sobre o assunto, enfim.

Meu irmão mais velho se casou no mesmo ano, em setembro. Um mês depois, fizemos a última mudança enquanto família, de uma casa enorme no Cidade Nova para um apartamento modesto na Zona 7.

Em 2007 morreu o Tio Lalau, que havia nos visitado em Guarapuava em 94. Meu irmão mais novo saiu de casa. Em 2009 eu saí de casa e fui morar numa kitchenette.

Em 2010 me mudo de Maringá para cá; meus pais se separam no mesmo ano.

E em casa ficam apenas minha mãe, a Mitch e um segundo gato, que tinha sido abandonado na porta do meu trabalho em 2008 e eu morri de dó de deixar o pequenino à sorte.

E hoje, pouco antes do meio-dia, Mitch, a gata, se foi. Com quase 18 anos, finalmente descansou. Já estava sem dentes e meio cega, ficava vários dias sem comer e não pesava nem 2kg. Seus ossinhos e articulações já eram cansados demais. Ama nemes harcot megharcoltam...

Ela viu tudo o que aconteceu com nossa família. Uma companhia silenciosa e constante, 18 anos sendo o sétimo membro da família.

Pensei muito em minha mãe. Sem os filhos em casa, sem o ex-marido. E agora sem a Tió.

[Não, não vou chorar.]

[Tarde demais.]

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ouvi por aí que vou ter sonhos malucos e pesadelos.

Achei oráculo, achei Delphos, achei Cassandra vendo meu futuro.

Espero que o oráculo me reserve um futuro melhor, porque o de 15 dias atrás foi uma bosta.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Don't fell like escrever no blog. Don't fell like nada ultimamente.

Só dormir.

Tenho dormido MUITO, todas as tardes, praticamente. E isso me dá aquela sensação de ser inútil, sabe? Inútil em todos os sentidos, na vida, no trabalho, nas finanças, no desenvolvimento pessoal, no relacionamento... tô legal não.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Vai chegando a hora de viajar e o Ano Novo dessa vez vai ser na tríplice fronteira de Foz. É tanta coisa para por em ordem e decidir, dá um mini-pânico quando lembro de tudo.

Mas nada consegue se interpor entre mim e a tri-fronteira. Descobri meu amuleto contra ansiedade: pensar nessa viagem.

Ou pensar em viagens. Nasci para por o pé na estrada, só me falta mais dinheiro.

sábado, 12 de novembro de 2011



Vocês, meus amigos e amigas, são minha colher de açúcar que me ajudam a engolir o remédio.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Ele chegou, fez o pedido: um combinado de sushis e sashimis e uma água com gás. Pensou na vida por 20 minutos, o tempo de prepararem a refeição.

"Itadakimasu", partiu os hashis. Molhou com calma cada peça em shoyu e comeu, sentindo o sabor familiar de arroz, peixes e algas. O sabor se misturou com lembranças. Para ele, era como se as últimas décadas fossem uma brincadeira. Aquela parecia a última refeição dessa fase despreocupada de sua vida. Tudo estava por mudar e aquela noite era como um ritual de passagem.

Durou ao todo 15 minutos. Concluiu o jantar, pousou os hashis na borda do prato de melamina imitando madeira laqueada, "gochisosama".

E olhou para aqueles dois comprimidos. Como em Matrix, quando Neo escolhe o vermelho ou o azul. Mas ele não tinha escolha, teria que ser os dois, ao mesmo tempo.

A escolha já havia sido feita. Ele escolheu viver.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Está marcado para hoje, entre 19h30 e 20h, o começo do primeiro dia do resto da minha vida.

Estou com medo.

Não, este post não é para fazer sentido mesmo. Nem adianta perguntar do que se trata.

Desejem-me sorte.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Não sei por que de repente eu comecei a me importar com passagem do tempo, idade e essa caralhada toda. Talvez ajudasse se as pessoas não insistissem em apontar o quanto de idade eu tenho, o quanto as coisas que eu gosto denunciam que nasci ainda nos anos 1970 (finalzinho, mas sim, nos anos 70).

E eu acho estranho isso. Ao mesmo tempo que dizem que não pareço ter mais de 30 anos, me esfregam na fuça que meus interesses, gostos (artísticos, culturais etc.) e hábitos são de uma pessoa de quase meia idade. Aí eu fico confuso, não sei se tenho o direito de gostar dos filmes e músicas que marcaram minha vida ou se tenho que (pelo menos fingir) estar antenado com todas as novidades pop dos anos 2010.

O que é mais estranho é que exatamente as mesmas pessoas que dizem que meu gosto musical, cinematográfico, cultural etc. é de velho, têm seus ícones altamente datados e imutáveis, como pokémon, sailor moon, super mario, t.A.T.u., avril lavigne, jogos mortais...

Talvez as pessoas mais novas (ou talvez todas as pessoas) costumem pensar que seus gostos são os melhores e todo o resto não presta ou é velho demais. Será que quando eu estava nos meus vintepoucos anos eu também era assim? Medo.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

"Ama nemes harcot megharcoltam, futásomat elvégeztem, a hitet megtartottam" (2 Tim 4, 7).

Combati o bom combate, terminei a minha corrida, guardei a fé. Este trecho da bíblia, do 2º livro de Timóteo, esteve por muitas décadas no jazigo do lado húngaro da família. Por algum motivo, retiraram a citação em húngaro e isso, a meu ver, foi uma perda da história da família, mas quem sou eu né? Nem religioso eu sou...

Enfim, uma coisa que sempre digo é que minha família só se reúne em funerais. Nem casamentos, nem batizados, nem aniversários de primeiro ano, nem nada, só em funerais mesmo. E é justo nesses momentos que o lado mais obscuro do ser humano se revela; as intrigas e suspeitas, as teorias da conspiração e, claro, altíssimas doses de culpa e remorso.

Algo relativamente comum nessas situações é a conhecida frase: "mas quem cuidava do fulano não devia ter feito assim, vai saber se ele não tinha mais uns anos de vida". E sabe, refletindo sobre o conteúdo implícito dessa frase, fico realmente confuso com os limites da fé. E sobre os limites da maldade também.

Ora, quem tem fé não diz que é somente deus quem tem o poder de retirar a vida de alguém? E que somente ele sabe a hora de cada um? Respondam-me então: se quem decide tudo no final é deus, como assim "o vô morreu porque deixaram ele numa clínica em vez de cuidar em casa"? Foi uma falha humana ou foi a hora certa, já escrita antes do nascimento, de deixar a vida?

Ok, eu entendo que na hora do sofrimento, talvez como mecanismo para aliviar a dor de perder uma pessoa amada, todo mundo só quer achar um culpado. E já que, devido à natureza infalível do conceito de deus, não dá para culpá-lo, as pessoas acham-se no direito de culpar justamente a pessoa que mais teve amor para com o finado e assumiu os cuidados nos últimos tempos de vida dele.

Mas mesmo um mecanismo anti-sofrimento deve ter um limite. Não dá para sair, cruelmente, julgando como própria ou imprópria a forma como o defunto foi cuidado pelo familiar que se encarregou disso. Assumam suas dores, se acreditam em deus, aceitem que não foi obra humana a morte daquele parente amado. Se quiserem culpar outro ser humano pela morte, aí fica feio acreditar em um deus sábio que não tira ninguém da vida antes da hora certa. As duas ideias simplesmente não casam.

É muito fácil julgar os cuidados com um moribundo como sendo inadequados, quero ver se os críticos de plantão teriam o mesmo peito de assumir essa responsabilidade, árdua e dolorosa, de cuidar para que o restante de vida do familiar seja digno e de qualidade.

Dizer que seres humanos são contraditórios não é novidade. Mas a crueldade tem que ter um limite. Quem morreu, já se foi mesmo, já combateu seu bom combate, terminou sua corrida. Quem fica, sofre, todos sofrem. Não é justo imputar mais sofrimento a alguém simplesmente por não aceitar uma perda.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Decidi: em janeiro eu volto estudar piano.

Quando passei a trabalhar seis horas por dia em vez de oito, comecei a me sentir mini-ocioso. Tudo que eu pensava que daria tempo para fazer e resolver, como ajeitar os detalhes que HÁ UM ANO eu já deveria ter ajeitado em casa, acabou que não tenho feito nada de tão importante no meu tempo livre.

Aí vem aquela sensação de inutilidade. E aí eu começo a lavar roupas e louças, obsessivamente. Faxina não é parte da minha obsessão, mas louças e roupas sim. Só que né? Louça e roupa de duas pessoas chega uma hora que acaba. Cachorro para passear? Não, obrigado. Prefiro meu gato. Ele me morde e me arranha, mas a melhor parte de um gato é que ele não é um cachorro.

E dormir. Sim, tenho dormido muito mais do que qualquer pessoa normal da minha idade.

Pensei em diversas coisas para ocupar meu tempo livre: fazer uma pós-graduação a distância, estudar um novo idioma, ir para a academia, fazer aperfeiçoamento de piano, abrir uma clínica e complementar a renda etc. E como minha vida se baseia em dois critérios ("se dá trabalho" e "se custa caro", mas mais "se dá trabalho"), pós, academia e clínica rodaram bonito.

As duas ideias que sobraram, o novo idioma e o piano, foram postas à prova das opiniões alheias. Namorado apoia o piano, terapeuta apoia o piano, duas amigas apoiam piano.

Ok, voltarei a estudar piano. Mas com uma condição: quero ter o direito de usar roupas brilhantes igual Liberace. Luxo feat. Poder and Sedussam.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Essa música grudou no meu cérebro e para tirar eu tive que ouvir.

Antonio Vivaldi - Le Quattro Stagioni: La Primavera - II Largo

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O bom de ter um namorado artista é que quando ele surta, pira, emaluquece, eu surto, piro e emaluqueço junto.

E ele é um bom artista. Sou simplesmente MALUCO pelo trabalho dele. Conceito puro, um tapa na cara da sociedade que acha que arte tem que ser bela e prazerosa ao olhar. A arte dele é instigante, incômoda, fascinante, AMO MUITO.

Só tem esse bônus - quanto melhor a arte, mais maluquinho é o artista.

Meu lema de vida - instabilidade emocional: EMBRACE IT.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

No mercado eu vi promoção de adesivo para parede. Acho cafona, comentei isso com meu namorado etc.

Aí hoje um virtuamigo do twitter (abracinho procê, @_Brito =^.^=) postou essa foto, sugerindo como decoração de parede:

Quero mudar minha opinião sobre adesivos de parede porque achei essa ideia linda e emocionante e chega senão eu choro.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ontem fui convidado a fazer parte de uma encenação no fim do ano no meu trabalho, nos moldes de um Auto de Natal. Considerações:

1º: EU NÃO SOU ATOR

Como eu já pontuei anteriormente em duas postagens distintas, minhas habilidades artísticas, especialmente de arte performática, beiram a nulidade. Entro em pânico apenas com a ideia de interpretar o que quer que seja, especialmente se tiver cunho humorístico, o que nos leva à consideração número dois:

2º: ODEIO PARÓDIAS/SÁTIRAS/ENGRAÇADICES

Meu ódio é intensificado quando a sátira ou paródia é feita por semi-amadores-semi-profissionais, gente comum, gente como a gente que resolve mudar algo que é clássico ou existente para tornar engraçado;

3º: EU SOU ATEÍSTA

Auto de Natal, contando história da anunciação, da imaculada concepção, nascimento humilde e rejeitado e adoração pelos magos do oriente, simplesmente não me comove nem me convence. Desculpa, mamãe, desculpa sociedade, desculpa irmão mais velho presidente de pastoral da família, mas eu sou assim. Nem mesmo mudando o auto de natal tradicional para algo mais... digamos... regional e atual (UM AUTO DE NATAL TOCANTINENSE [???])... o que nos leva à 4ª e última pontuação:

4º: ARIANO SUASSUNA E JOÃO CABRAL DE MELO NETO

Sim, eles já fizeram, cada um deles, autos de natal em tempos contemporâneos e em locais inusitados, como Paraíba e Pernambuco.

Primeiro fui convidado a interpretar um papel. Dado meu VISÍVEL desconforto, o convite mudou para trabalhar nos bastidores. Vendo que eu continuava resistente, a cartada final foi:

"Não precisa ser religioso, é para a ~INTEGRAÇÃO~ entre nós funcionários, o resgate do sentido de ~FAMÍLIA~ já que nós aqui ~SOMOS~ uma família".

Óbito
Data: 25/10/11
Hora: 11:00

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Aí tem esse blog que eu acompanho há mais ou menos um ano. A blogueira tem uma visão, ao mesmo tempo, divertida e profunda sobre os fatos da vida, as desgraças cotidianas, os fenômenos sociais e sociológicos, a miséria humana e, como toda uma geração de blogueiros, sobre as merdas da sua própria vida.

Mas no feriado do dia 12 de Outubro ela foi para Buenos Aires e postou no blog dela o quanto a viagem foi uma droga. Assim...

BUENOS AIRES.

BUENOS FUCKING AIRES.

Como, eu me pergunto, COMO alguém consegue não gostar de Buenos Aires? A capital sulamericana da diversão, da comida e da bebida barata, da melancolia chic-decadente, um oásis de cultura mista euro-ameríndia, liberal até dizer chega e, paradoxalmente, apegada às raízes históricas e à tradição? C.O.M.O?

Não sei mais se respeito a tal blogueira depois disso.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Semana passada foi pedreira, trabalhei em cinco dias o que eu não trabalhei em cinco meses. Acabou que o blog ficou às moscas.

Enfim, espero voltar essa semana aos mimimis minimalistas disfarçados de desabafos e histórias engraçadas da minha vida.

Uma bêaj.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Quando você pensa que já estava perdendo ou pelo menos melhorando no velho hábito de se sentir culpado por expressar seus pensamentos e desejos, vem a vida e

BAM

dá uma rasteira e te derruba com a fuça na brita.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Tive um sonho no meio da tarde e nele eu estava na minha sala no trabalho, só que era uma sala/quarto e tinha a minha cama, na qual eu estava deitado e todo coberto só com os pés para fora.

Eu precisava esconder do chefe, na sala do lado, que eu estava sem calças, então tentava mostrar só os pés, mas a coberta não dava para cobrir o suficiente e sempre aparecia um pedaço da perna. Aí passou uma amiga (a linda da Bru) que olhou para os meus pés e fez uma cara de "ih, isso não está bom, não disfarça nada", torcendo o nariz.

Sei que eu levantei e ouvi uma série de reclamações do chefe, coisas que primeiro ele tinha dito que estavam ok, mas aí de repente mudou de opinião e não estavam mais ok. E uma delas era a altura da música que eu estava ouvindo, que depois virou reclamação da música em si: BRITNEY.SPEARS

Acordei com a porta do quarto abrindo e 1) fiquei feliz de ter sido acordado, e 2) acordei com enjoo, azia e mal humor.
Hoje consegui fugir de cantar no tal ~convite animado~ para o evento que vai ter no trabalho semana que vem. Estou aqui, escondido na minha sala, enquanto os colegas estão no saguão do prédio cantando uma paródia da música mais chata do Roberto Carlos - "É Preciso Saber Viver". Cada um com uma peruca amarela ou um chapéu multicolorido.

(Xô doença eu sei me cuidar, xô doença eu sei me cuidar DESGRUDA DO MEU CÉREBRO, PARÓDIA INFERNAL)

Dei uma olhadinha para baixo, do mezanino do meu andar e me peguei sorrindo... sabe, achei bonita a disposição inclusive daquela colega hiper tímida usando um chapéu de menestrel que as pessoas usam para assistir aos jogos da Copa. Por dois segundos pensei que talvez eu poderia ser diferente e animado e não me importar com o ridículo, mesmo porque é um ridículo controlado, com um objetivo nobre. No terceiro segundo de pensamento me veio a seguinte frase:

"Não, eu não sou assim".

Acho bonito quem é, mas eu não sou.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Quero receitas para aprender a não me sentir excluído, rejeitado, deixado de lado. Quem tiver uma fórmula para isso, por favor envie, preciso de ajuda.

Grato.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O dia é 12 de outubro de 2009. Por muito tempo encarei essa data como sendo o último momento realmente feliz da minha vida, já que na mesma semana começaram a acontecer os mais absurdos revéses pelos quais eu passei (listei os principais nessa postagem aqui).

Mas o que aconteceu no feriado de outubro de 2009 para ter essa importância na minha vida?

Muitas pessoas criticam o orkut, mas por meio dele conheci pessoas fantásticas, pessoas que você tem vontade de estar junto. E foi o que um pequeno grupo de ex-orkuteiros, meus amigos, decidiu fazer: uma viagem em conjunto para desvirtualizar a amizade.

Os personagens desse texto: minha companheira blogueira Sílvia, do outro blog onde eu escrevo, uma das aniversariantes de hoje (UM BEIJO PRA TI, DAY K) e o seu namorado Ângelo. E estava também o ex-namorado da minha amiga blogueira, de quem acabamos todos nos afastando (porque amigos são assim: ex-namorado de um é ex-amigo de todos, risos).

Três cariocas e dois paranaenses e um objetivo em comum: curtir o feriado em um lugar divertido e comemorar o aniversário da amiga. Acabamos parando na trifronteira paranaense.

Ah, a trifronteira... Foz do Iguaçu no lado brasileiro, Puerto Iguazu no argentino e Ciudad del Este no paraguaio... as cataratas, as compras, as comidas (bife de chorizo, carne de jacaré, baby beef, doce de leite, presunto defumado...), a cerveja barata na Barraca da Mírian na Argentina, os estrangeiros fazendo estrangeirices no albergue...

O albergue onde nos hospedamos é conhecido por ter "la más grande pileta en la ciudad", a maior piscina de Puerto Iguazu; entre os estrangeiros, é apelidado de "ClubMed dos Albergues". E além disso, muitos estrangeiros, principalmente europeus. Britânicos bebendo cerveja de 750ml como se fosse long neck, suecos brancos como cera ficando vermelhos depois de passear por 10 minutos sob o sol missioneiro, a biscat irlandesa do karaokê...

Numa das noites, de posse de um laptop e com quantidades significativas de álcool no sangue, o povo se animou em começar a cantar e essa irlandesa, certa de que sua linda voz atrairia quem ela quisesse, cantou uma balada que disse ser típica da sua terra... E nós, brasileiros, com o espírito de porco que nos é típico, nos pusemos a cantar um clássico do cancioneiro brasileiro, a música Cadeira de Rodas, de Fernando Mendes. Jurando que era uma música típica do Brasil, com uma letra linda e inspiradora...

Teve o passeio de compras no Paraguai. Eu e minha amiga paranaense temos como diversão.da.vida levar novatos às compras em Ciudad. É lindo de ver os olhinhos deles brilhando ao ver cores e sons e brilhos e luzes que talvez já tenham visto (alô 25 de Março, alô Saara), mas ver tudo isso direto na fonte e mais barato... eletrônicos de última geração que nunca foram lançados no Brasil custando menos do que nossos produtos similares mais simples... é como soltar uma criança numa loja de doces e dizer: "você só pode comprar até X reais de doce heim?". Só sei que teve gente que comprou 15 bolsas e por pouco não teve que explicar na alfândega que não era para revenda, era para consumo pessoal.

E o aniversário. Sim, todo mundo arquitetando e buscando meios de fazer uma surpresa para a bonita... pedimos ajuda de uma funcionária do albergue que recomendou uma confeitaria, lembro até hoje o nome: El Arbol Real. Encomendamos uma torta de massa folhada e dulce de leche com uma vela daquelas espalhafatosas que parecem o clip da Kate Perry, comemos a torta e tomamos Budweiser litrão a míseros R$6,00 (PAGA MEU MERCHAND, BUD). Com o aniversário da Day na Argentina, oficialmente eu fiquei com inveja de quem comemora fora do Brasil, já que não é a primeira amiga que faz isso E EU ESTOU JUNTO.

Voltei para casa com a sensação de ser uma pessoa melhor, com tanta bagagem de diversão e afeto concentrados em tão poucos dias. Feliz. Completo. Sim, até hoje eu considero esse feriado como o último momento de pura felicidade na minha vida, sem estresse, preocupações.

Quero de novo.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Ah, dia 12 de outubro... lembro de pelo menos duas vezes que esse dia foi memorável... nesta postagem tratarei de uma delas e amanhã tratarei de outra.

Em 2007, comecei um caso com um argentino. Nos conhecemos e logo voltei para o Brasil, ficamos um ano "namorando" via MSN até que no feriado de outubro de 2008 eu fui para Buenos Aires de novo, acertar nossos ponteiros.

Foi.divino.

Conheci a casa dele, conheci o irmão e a sobrinha, conheci o casal melhor amigo dele. Dia 12 de outubro é feriado também na Argentina, comemoram a chega de Colombo à América.

Passamos dias muito românticos, passeios lindos pela costa do Rio da Prata, pelos boulevards arborizados da capital... ele ficou de ir ao Brasil no reveillon e eu esperei.

E esperei.

E ele não veio.

Eu tinha pensado meios práticos de largar tudo e viver um casamento más allá de la frontera e ele não veio. Não aparecia no MSN, não respondia minhas mensagens no celular, nem aos emails. Sumiu. Achei que tivesse morrido até que ele me mandou uma mensagem: "és que yo fui al interior hacer un trabajo y estoy sin acceso a la internet", assim seco, sem os costumeiros te quiero que ele vivia me mandando.

Ainda não tinha completado 30 anos, pensei que seria uma boa viver uma loucura de amor antes disso. Enganei-me. Desde então, loucuras de amor na minha vida só têm espaço dentro de condições restritas, o romance limitado pela prática.

Tem que ser assim.
Acordei meio estranho hoje. Não sei dizer como e na falta de melhor adjetivo, fica o "estranho" mesmo.

Total sem motivo. Ontem tive uma noite muito agradável com alguns dos melhores amigos que tenho na cidade, dei risada demais, bebi talvez um pouco mais do que deveria... meu casamento, depois de uma super depressão semanas atrás, está voltando aos eixos e está tudo bem...


E aí me vem esse sentimento estranho, do nada. Não é tristeza, não é vazio. Tampouco é um sentimento bom. Tento identificar se quero chorar ou não, parece que não quero, não vem o nó na garganta e os olhos não inundam. Não consigo me imaginar contando uma piada também.


Não é saudade também, embora ela esteja sempre presente ultimamente, pois desde julho que não vejo minha família e os amigos do coração que ficaram para trás quando me mudei para cá.


Percebam que estou dizendo como não me sinto em vez de dizer como me sinto. Quando eu estava na faculdade, lembro de uma professora que dizia que fenômenos devem ser descritos positivamente em vez de pela negação de outros fenômenos. Ainda bem que estou falando fora do ambiente científico, porque a única forma de contar sobre o meu sentimento, é explicar os meus não-sentimentos.


Só sei que nas poucas vezes que fico desse jeito, bate forte a vontade de dormir e só acordar em janeiro do próximo ano. Já pode?

domingo, 9 de outubro de 2011

Cena: eu muito pequeno mal sabendo falar direito ainda, minha mãe, minha avó e uma prima em casa e eu correndo pela cozinha e, pelo que me contaram, eu tinha feito alguma má-criação.

Tropeço. Caio. Amolecem-me os incisivos, decíduos [aprendi essa palavra LINDA com o dentista da minha vida <3].

Minha avó: "Viu? Quem desobedece, Jesus castiga!"

Eu: "Ah, vô topeçá jesus tamém!"

Juliano, desafiando dogmas since 1979.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O 2º movimento dessa sonata para piano de Beethoven não sai da minha cabeça a manhã toda.


Piano Sonata No. 8 - Pathétique mov 2 - (Beethoven) from Xemdryam on Vimeo.

Acho que existe um limite entre o sofrimento que dá para a gente lidar escrevendo em um blog e aquele sofrimento que, de tão complicado, não tem como transformar em algo inteligível.

Tenho passado por esse segundo tipo de sofrimento. Talvez este blog entre em recesso por tempo indeterminado.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Tinha prometido para mim mesmo que não esconderia nada de como me sinto, não aqui no blog. Mas desculpa, tem coisas que não vou contar mesmo.

Basta que eu escreva aqui que estou com medo. Medo do que pode acontecer no futuro, medo de não conseguir vencer minhas batalhas pessoais, medo de não dar conta de sobreviver.

E sentir medo, especialmente do que acabei de falar, era impensável para mim há dois anos. O ano de 2009, como muitas pessoas me disseram na época, foi o pior da história da humanidade. Foi mesmo.

domingo, 2 de outubro de 2011

Exemplo de como funciona a mentalidade de um ciumento:

Fato: o peguete de um conhecido do seu namorado liga para ele para pedir conselhos sentimentais.

Na cabeça do ciumento: o cara quer ficar com o seu namorado e, possivelmente, roubá-lo.

Entenderam? É muito simples: você pega um fato isolado, pequeno e bem idiota e constroi intenções onde não existem.

Fim.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Não sei qual é o meu limite entre o mimimi-histriônico e o sofrimento autêntico.

No final de 2009 aconteceram umas duzentas merdas ao mesmo tempo na minha vida, dentre elas:

1- bateram no meu carro
2- levei um pé na bunda
3- tive um tumor no pé e precisei fazer cirurgia
4- comecei a ficar com um cara que me roubou dois cartões de crédito e minha carteira de habilitação
5- foram cometidas diversas fraudes com o meu CPF e meu nome foi parar no SPC e no Serasa
6- passei 45 dias de muletas, por causa da cirurgia no pé e, como não conseguiria dar conta de sobreviver sozinho, saí da kitchenette em que morava e fiquei quase dois meses na casa da minha mãe
7- quando voltei pra minha kit, encontrei uma infiltração monstra e duas paredes e o teto mofaram
8- demais merdas decorrentes dessas sete anteriores

Em questão de três ou quatro semanas, minha vida virou um roteiro de filme em que o personagem principal só se fode, Precious mandou um beijo e pediu a vibe de volta.

E nos dois meses que fiquei na minha mãe, aos cuidados dela, acho que reaprendi a ser manhoso, mimizento, dependente não só nos meus auto-cuidados, mas também hiper-dependente emocionalmente.

Hoje, conversando com meu namorado sobre tamanho de faixas de gaze, lembrei desses dias, sofrendo mais do que cachorro sarnento, com o pé enfaixado... e lembrei desse cuidado incessante da minha querida mãezinha... e senti saudades e chorei e estou chorando ainda, enquanto escrevo isso...

Ganhos secundários, diriam os psicanalistas. Fiquei doente e sofri física e emocionalmente, MAS tive atenção e zelo maternos por 60 dias ininterruptos, vejam só.

Daí que eu me perdi nesse limite entre o sofrimento e a histeria, o chamar à atenção quando se está carente. E confesso estar morrendo de medo de ser mais um filhinho da mamãe mimado chorando por um pouco de carinho.

Cu.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Conversando sobre sonhos com meu irmão, ele disse que sonhou que estava em Paris, vendo plantinhas nas frestas do calçamento e dizendo "olha, já é Primavera". Oi?

Acontece que essa conversa me provocou um sentimento que já tive várias vezes, mas que fazia tempo que não me ocorria: saudade do que nunca aconteceu.

Quando eu era criança, eu assistia ao filme Os Goonies (e isso me ensinou a AMAR Cyndi Lauper) e chorava muito. Porque eram crianças tão parecidas comigo, tímidas, CDFs (termo antigo para os chamados geeks hoje em dia), sofriam bullying... os pais dos meninos sofriam bullying também... aí de repente eles encontram um mapa do tesouro e vivem aventuras maravilhosas e todo mundo deixa de sofrer bullying E EU MORANDO NAQUELA PORRA DE PALOTINA VIVENDO AVENTURAS COM MEU PLAYMOBIL.

Aí com a adolescência e a vida adulta e a partir dos milhões de documentários e filmes e livros e mapas sobre Paris, eu chorava também. Uma versão adulta da tristeza que sentia assistindo Os Goonies, digamos.

Conheço Paris a partir de diversas fontes, menos a que seria a mais fidedigna: uma visita à cidade. E a saudade do que nunca aconteceu bate forte.


Paris está lá, linda na Primavera. E eu aqui, fazendo dança da chuva por seis meses e dança da seca por outros seis.
Essa noite sonhei que conseguia voar. Tipo Mary Poppins, simplesmente estava em pé e de repente BAM, desprendia do chão e subia.

O interessante foi o que o eu-onírico pensava disso: "mas é impossível, como eu consigo voar? como eu consigo controlar o voo e não tombar, como é isso de voar em pé?"

Psicanalistas, deitem em rolem ok. Não estou tentando entender o sonho, mas encontrei uma "moral da história" mais ou menos assim:


1- Quando consigo pela primeira vez na vida voar, tem que ter um pensamento derrotista


2- Voar não é estranho, mas voar em pé sim. Ou seja: até que eu posso voar, mas do jeito certo


Achei auto-crítico.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Já te aconteceu de parecer que todo mundo te olha quando você passa, como se todos conseguissem ler pensamentos e soubessem todo o furacão que está por baixo da tua plácida aparência?

Ontem e hoje estou com essa impressão. E confesso que estou com um puta medo de alguém chegar e perguntar 'hey, o que aconteceu para você estar com essa cara?'

Eu desmontaria.

domingo, 25 de setembro de 2011

Juro que a crise de choro de sábado não foi puro drama. Tive motivos, senti minhas culpas; aliás, sentir culpa é uma velha constante para mim. Sentir-se responsável pela ruína de outra pessoa não é fácil. Sentir que você possui o toque de Rei Midas, só que ao contrário, transformando em cocô tudo o que toca. Sabem esse sentimento? Então. E eu digo uma coisa: esse sentimento seria pura loucura se eu não tivesse, realmente, prejudicado alguém seriamente.

Talvez seja pior isso do que fazer o drama da personalidade histriônica. Se fosse drama era só não dar atenção que passava. Eu não queria atenção. Eu queria que o mundo sumisse da minha frente. E ainda não sei se essa vontade diminuiu, sendo sincero.

Sinal de que talvez eu precise um psiquiatra também. Ou uma camisa de força e eletroconvulsoterapia.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Dureza é aguentar o blablablashiniashikipaulocoelhocarpinejarblablabla toda sexta-feira. Chefe criou um hábito de todas as sextas ter um café da manhã, como um pretexto para se reunir dentro do trabalho para não falar de trabalho. A iniciativa é legal? Aaaaaaaaté que é... porém:

1- A colega que trouxe o aromatizador para fazer propaganda do produto que ela vende perfumar o setor faz uma dinâmica de grupo em todas as sextas;

2- Eu ODÍO dinâmica de grupo;

3- Eu TETESTO esse clima amistoso fake, em que todo mundo finge que gosta de todo mundo;

4- Eu NUM SUPURTU as rasgações de seda e babações de ovo semanais;

5- O chefe do chefe foi convidado para os cafés da manhã de sexta e esse homem me dá pânico.pavor.calafrio.micagotodo.

Querem tomar café da manhã coletivo? Beleza, só não me peçam para ser animado, festivo, amistoso e de bem com a vida.
Ontem a colega altruísta, que trouxe os aromatizadores para o setor e foi aplaudida por todos, trouxe sorvete para todo mundo. E não foi para fazer propaganda do produto.

Eu chorei.

Vai, Juliano, sentir-se culpado por tudo na vida.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Onde foi que eu me perdi? O que aconteceu de errado comigo que eu regredi tanto?

Ou eu nunca fui bom, sempre fui uma bosta e agora que estou me dando conta?

Conversei com um ex, para tentar obter informação sobre como eu era na época em que estávamos juntos... ele disse que tive muitos momentos bons, mas os que ele lembra com mais vivacidade são as vezes que eu esculhambei com tudo...

Ele disse que não lembra de mim tendo crises de ciúme, o que já é um sinal de que em algum momento da minha vida eu fui competente em ter auto-estima. Mas que eu sim o desrespeitei de muitas formas.

Doeu saber disso. Pedi desculpas. Ele respondeu apenas "o tempo cura". Sorte minha, porque sou ineficiente em me redimir pelas minhas burradas.

A isso, ele respondeu: "pois é, eu sei disso rs". O golpe de misericórdia.
Você se engana muito se acha que ateístas não sentem culpa. Sentir culpa não depende de acreditar em um deus punitivo; sentir culpa depende de ter vivenciado suficientes situações em que seu erro foi escancarado na sua fuça, depende de todas as vezes que as pessoas te mostraram insistentemente que alguém foi muito ferido ou magoado por algo que você fez e, ou, falou. E sim, nesse sentido eu fui criado com MUITA culpa.

O problema do sentimento de culpa é que ele, de fato, não muda nada a cagada que foi cometida. Não volta o tempo, não dá uma segunda chance de fazer melhor. Não para aquela cagada; o máximo que a culpa faz é evitar que novas cagadas sejam feitas. E sim, com 32 anos eu sei que o que a gente fala, as merdas incontroladas que falamos em momentos de conflito, têm muito efeito sobre os outros. Eu sei disso na teoria, eu sei disso na prática, eu sei disso pela formação científica, eu sei disso porque todo mundo fala.

Eu só não sei, de verdade, de coração, porque eu continuo falando e fazendo ofensas. Não sei mesmo.

Desculpa.
Por que eu sou assim? POR QUÊ?

=[
É lógico que quando me mudei para cá eu imaginava que muitas coisas seriam diferentes. Não melhores, nem piores, diferentes apenas. E foi o que aconteceu: uma linda troca de "aqui não tem isso, mas tem aquilo que compensa" e tenho sido relativamente feliz no último ano.

Nesse processo, percebi um negócio interessantíssimo: as maiores diferenças, as mais drásticas, parecem ser mais fáceis de se habituar. Sei lá por que, talvez por eu ser curioso e atraído por novidades, mas tenho adorado descobrir detalhes do local e do modo de vida daqui.

E por outro lado, as diferenças mais sutis têm sido mais difíceis de me acostumar. Aquilo que parece tão familiar, mas quando você vê de pertinho são diferentes, mais intensas...

Conclusão meio auto-ajuda: os pequenos detalhes são os que fazem as maiores diferenças.

(Você já foi menos piegas nos seus escritos, Juliano)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O mundo das cores anda me cansando. A colega trouxe perfume ambiente para o nosso setor, o chefe alardeando "olha como ela é atenciosa, trouxe perfume, tá sentindo esse cheirinho de lavanda? foi a fulana que trouxe" para TODO MUNDO QUE ENTRA na sala.

E olha que eu não odeio as pessoas envolvidas no episódio. Só tenho horror a esse mundo em que qualquer.pessoa.pode.ser.boa.basta.querer. Tenho medo de ser tudo Stepford Wives ou, como diz uma amiga muito querida, sepulcros caiados.

De onde vem esse medo, da minha mentalidade paranóica? Não. A colega dos perfumes, na verdade, trouxe o produto porque além de ser benevolente e pensar no bem estar de todos no setor, ela é representante da marca de perfumes e isso é uma amostra para caso alguém queira comprar os produtos dela.

Mundo das cores escondendo a vileza em preto e branco.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Definitivamente, minha paranoia não se resume às situações afetivas/emocionais. Ou familiares.

Há algumas semanas, soube que a administração superior do órgão em que eu trabalho iria discutir as atribuições do meu cargo.

www.morri.fuienterrado.ressuscitei.com.br

Já pensei em todas as perseguições das quais eu poderia estar sendo vítima, em todas as pessoas que me odeiam nesse serviço e me preparei para todas as teorias da conspiração subjacentes ao fato. Já estava até me imaginando sendo deportado para alguma micro-cidade na divisa com o Pará.

Aí hoje eu participei da reunião e a discussão foi algo que incluíram em pauta para que eu pudesse usufruir dos mesmos benefícios dos outros profissionais de saúde do órgão, como por exemplo a redução da jornada de trabalho.

Acho que não há ninguém que me odeia nesse serviço, então. E eu nem sou vítima de uma conspiração interestadual envolvendo o meu ex-empregador.

Vidinha besta essa sem paranoia.

domingo, 18 de setembro de 2011

Das 7485930 pessoas que fazem aniversário hoje, uma delas é uma história engraçada.

Ano passado, reencontrei uma pessoa com quem tinha ficado lá por 2006. Foi legal, catártico, pedimos desculpas pelos desencontros do passado e pá: rolou um começo de namoro.

Só que ele estava com tudo certo para se mudar para os Estados Unidos... tinha já o visto e tudo. Ok, foi o que passei a chamar de "namoro pré-datado": iríamos aproveitar ao máximo os poucos meses que nos restavam.

Acontece que nas três primeiras semanas foi tudo UM SACO. Sabe aquela pessoa que você liga quinze vezes e ele atende só uma? E ainda diz que não está a fim de ver você no dia? Então...

Resultado - acabei rompendo o contrato pré-datado antes do dia de ele ir embora.

Esse é o tipo de coisa que eu só vi na minha vida sentimental doentia.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sabe aquela tia que você só ouve falar e deve ter visto uma ou duas vezes em 30 anos, mas nem lembra da cara dela se a vir na rua? Aquela que você não sabe onde mora, quantos e quem são as dezenas de filhos dela? E que tudo o que você sabe é que ela não é exatamente uma pessoa altruísta, piedosa e, ou, preocupada com o bem estar dos outros?

Pois bem. Tenho uma dessas. E ela tem forçado contato com a família, especialmente depois da separação dos meus pais. E de saber que existe um patrimônio em partilha.

Palavra que define: MEDO.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

MORRO.DE.PREGUIÇA de gay homofóbico.

Recebi um email, repassado por alguém que repassou para outro alguém que repassLOOPING que, supostamente, é o depoimento de um gay desse tipo.

Ele fala verdadeiras pérolas de homofobia. Tais como dizer que ok ser gay, só não pode ser bicha, que nunca foi incomodado por causa da sua orientação sexual por não dar bandeira, por torcer pelo Grêmio, gostar de carros e saber trocar chuveiros etc., que bichas tudo bem serem discriminados, pois o simples fato de ser como são já incomoda a sociedade, que as bichas querem sim instalar um Reino Cor-De-Rosa em que tudo é festa e promiscuidade... não lembro mais coisas porque senti tanto asco que apaguei o email, mesmo antes de terminar de ler.

Sabe, poucas coisas me deixam mais Q do que um gay homofóbico. Nem mulher machista eu acho que me deixa tão perplexo. Nem negro racista. Tudo isso é uma merda, mas gay homofóbico é além do meu alcance.

Cada pessoa, cada cidadão de direito, pode ser DO JEITO QUE QUISER. Pode usar roupa esdrúxula, pode falar errado, pode ser pobre, pode gostar de sertanejo, pode fazer cirurgia de mudança de genitália, pode pôr silicone, pode pintar o cabelo de amarelo, vermelho ou azul. O que importa é que perante a lei TODOS SOMOS IGUAIS. Desde que nenhuma lei seja desobedecida, todos podem ser como quiserem.

Nada justifica o preconceito, a segregação, a discriminação. Nada justifica a violência contra qualquer tipo de pessoa. Gays homofóbicos são do mesmo tipo de gente que uma mulher que diz que a outra foi estuprada porque também, olha só a roupa dela? Está pedindo para ser violentada!

NÃO.

A única coisa que o autor desse texto que recebi esqueceu de mencionar é que gays NÃO PODEM SER HOMOFÓBICOS.

E ponto.
Minha habilidade para atividades artísticas, criativas e animadas beira a zero.

Hoje a equipe de trabalho decidiu fazer um "convite animado" para um evento que será realizado em outubro: cantar uma paródia.de sala em sala.entregando convite


Só consegui contar isso para vocês porque anotei tudo. Parei de prestar atenção na parte em que falaram a palavra "paródia".

Lembrei das vezes que tive que dançar quadrilha na escola, todo o sofrimento para conseguir fazer os passos e ainda fingir que o sorriso no rosto era natural, espontâneo, animado.

Não nasci para ser animado.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Quando fiz a disciplina de Psicopatologia, os veteranos me alertaram que eu iria achar que tenho todas as doenças estudadas. Sim, aconteceu e eu achei que era depressivo-neurastênico-histérico-obsessivo-ansioso-fóbico-paranóico-sociopata-etc.

Doze anos e duas psicoterapias depois eu me julgo maduro e equilibrado, capaz de assumir as rédeas da vida sem grandes sobressaltos, sem nenhum código de doença estampado na testa.

Ontem comecei a ler a CID-10, a classificação de doenças da Organização Mundial de Saúde. Encontrei pedaços de mim e cada um dos códigos F, os de doenças mentais. Só não achei o código da doença que a pessoa acha estar doente e não sabe se é só achar que está doente ou está doente de verdade.

Saco, não existe código para o que eu tenho.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Não consigo parar de pensar. Não consigo, simples. Eu vejo o mundo, com todas as suas lacunas, e é automático: estou completando-as. É horrível ser assim, é triste ser assim. Você não vive como deveria, a todo momento você se relaciona com ideias de como é o mundo e não como ele realmente é. E surpresa: quem criou essas ideias foi sua mente doentia e paranoica.

*pausa* NÃO ME ACOSTUMO COM A AUTOCORREÇÃO DIZENDO QUE O CERTO É PARANOICA E IDEIAS, TUDO SEM ACENTO *fim da pausa*

Minha paranoia, sim. Fiel companheira, guardiã leal que sempre me afasta das pessoas. Muito obrigado, você já cumpriu seu papel. Agora é hora de ir embora. Só não sei como te expulsar da minha vida, sua sapeca.
Na última sessão, meu terapeuta me puxou a orelha lindamente. Disse, de uma forma que só nós psicólogos sabemos, que eu devo assumir minhas responsabilidades e evitar máscaras para encobrir aquilo que, na verdade, deveria assumir.

Sou uma drama queen irresponsável.

Causa mortis: excesso de feedback.

Não é fácil lidar com a passagem do tempo. O presente te puxa para a realidade, o futuro, que ainda nem existe, acena dizendo onde você provavelmente não vai chegar e o passado... ah, o passado, sempre puxando a barra da sua camiseta, chamando atenção e mostrando “ei, você queria me esquecer, mas não vai consegui-ir”...

O passado é o mais malandro dos três. O mais visguento, grudento. Te prende, te define, te limita. Por mais que você mude de casa ou de cidade. Ou de estado. Ele sempre mostra sua cara. Não tem como esquecer e lidar com ele depende de você se forçar a lembrar muitas e prolongadas vezes.

Quero viver o meu presente. Queria fazê-lo sem interferência do passado. Merda, essa opção não está disponível.