sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Obrigado, Michelle

Amanhã é meu aniversário. Normalmente a data não me deixa triste, acho até meio cafona ficar "deprimido" num dia tão bacana. Mas, por meio de algum desses velozes pensamentos que circulam pela nossa cabeça a cada instante, lembrei que, um dia depois de mim, uma  amiga que fiz no meu primeiro emprego também completaria anos.

Fazia pouquíssimo tempo que eu havia me formado e logo assim, de cara, conheci Michelle, Assistente Social, também formada fazia pouco tempo. Conversa daqui, conversa dali descobrimos uma grata coincidência: ambos nascidos em Londrina, no mesmo Hospital Evangélico, no mesmo ano, com apenas algumas horas de diferença, não chegava a ser nem um dia completo. Brincávamos que já nos conhecíamos desde o berçário, só precisávamos atualizar os 20 e poucos anos de tempo que ficamos sem nos falar.

Michelle era dessas pessoas rígidas consigo mesma e com os outros. Exigia de si o máximo, dos outros também. Inteligente, esforçada, sonhadora (acho que é pré-requisito para ser Assistente Social), humana e justa. Com o passar dos meses, acabou se contaminando com a indolência dos outros colegas de trabalho (Andréia, Cecília e Gisélia: beijos, suas lindas) e foi se soltando e fazendo piadas e dando risadas naquele que foi, para mim, o melhor ambiente de trabalho para começar a carreira. Tive muita sorte com colegas de trabalho, alguns se converteram em amizades das quais não abro mão.

Michelle oficializou o casamento, foi morar no Pará com o esposo - ainda guardo a fita do Círio de Nazaré e a escama de pirarucu, presentes que ganhei dela - foi mãe por duas vezes.  As notícias foram se escasseando, cada um teve que cuidar da sua própria vida, não é mesmo? Infelizmente, depois de algum tempo sem saber de Michelle, na época das festas de fim de ano de 2011, recebi uma mensagem no celular, do marido dela, informando sobre seu falecimento.

Perdi uma colega, uma amiga, uma companheira de berçário. Perdi a chance de aprender com ela um pouco mais de como deixar de ser auto-indulgente e passar a me cobrar melhor desempenho pessoal e profissional. Perdi a chance de vê-la com sua prole nos braços, garanto que ela foi uma mãe amorosa e interessada. Perdi a chance dizer-lhe o quanto eu estava feliz pela vida familiar e profissional dela, fruto do empenho que ela sempre teve em sua breve passagem pela Terra.

Comemorarei meu aniversário amanhã, vou dar risadas e vou ser feliz, claro. Sei que Michelle acharia idiotice minha ficar triste por causa dela. Então, minha amiga, apesar de lembrar de você com a tristeza que lembrei hoje, desejo que seu descanso seja cheio de paz. Sei que você me desejaria feliz aniversário amanhã, se pudesse. Obrigado.