sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Não sei qual é o meu limite entre o mimimi-histriônico e o sofrimento autêntico.

No final de 2009 aconteceram umas duzentas merdas ao mesmo tempo na minha vida, dentre elas:

1- bateram no meu carro
2- levei um pé na bunda
3- tive um tumor no pé e precisei fazer cirurgia
4- comecei a ficar com um cara que me roubou dois cartões de crédito e minha carteira de habilitação
5- foram cometidas diversas fraudes com o meu CPF e meu nome foi parar no SPC e no Serasa
6- passei 45 dias de muletas, por causa da cirurgia no pé e, como não conseguiria dar conta de sobreviver sozinho, saí da kitchenette em que morava e fiquei quase dois meses na casa da minha mãe
7- quando voltei pra minha kit, encontrei uma infiltração monstra e duas paredes e o teto mofaram
8- demais merdas decorrentes dessas sete anteriores

Em questão de três ou quatro semanas, minha vida virou um roteiro de filme em que o personagem principal só se fode, Precious mandou um beijo e pediu a vibe de volta.

E nos dois meses que fiquei na minha mãe, aos cuidados dela, acho que reaprendi a ser manhoso, mimizento, dependente não só nos meus auto-cuidados, mas também hiper-dependente emocionalmente.

Hoje, conversando com meu namorado sobre tamanho de faixas de gaze, lembrei desses dias, sofrendo mais do que cachorro sarnento, com o pé enfaixado... e lembrei desse cuidado incessante da minha querida mãezinha... e senti saudades e chorei e estou chorando ainda, enquanto escrevo isso...

Ganhos secundários, diriam os psicanalistas. Fiquei doente e sofri física e emocionalmente, MAS tive atenção e zelo maternos por 60 dias ininterruptos, vejam só.

Daí que eu me perdi nesse limite entre o sofrimento e a histeria, o chamar à atenção quando se está carente. E confesso estar morrendo de medo de ser mais um filhinho da mamãe mimado chorando por um pouco de carinho.

Cu.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Conversando sobre sonhos com meu irmão, ele disse que sonhou que estava em Paris, vendo plantinhas nas frestas do calçamento e dizendo "olha, já é Primavera". Oi?

Acontece que essa conversa me provocou um sentimento que já tive várias vezes, mas que fazia tempo que não me ocorria: saudade do que nunca aconteceu.

Quando eu era criança, eu assistia ao filme Os Goonies (e isso me ensinou a AMAR Cyndi Lauper) e chorava muito. Porque eram crianças tão parecidas comigo, tímidas, CDFs (termo antigo para os chamados geeks hoje em dia), sofriam bullying... os pais dos meninos sofriam bullying também... aí de repente eles encontram um mapa do tesouro e vivem aventuras maravilhosas e todo mundo deixa de sofrer bullying E EU MORANDO NAQUELA PORRA DE PALOTINA VIVENDO AVENTURAS COM MEU PLAYMOBIL.

Aí com a adolescência e a vida adulta e a partir dos milhões de documentários e filmes e livros e mapas sobre Paris, eu chorava também. Uma versão adulta da tristeza que sentia assistindo Os Goonies, digamos.

Conheço Paris a partir de diversas fontes, menos a que seria a mais fidedigna: uma visita à cidade. E a saudade do que nunca aconteceu bate forte.


Paris está lá, linda na Primavera. E eu aqui, fazendo dança da chuva por seis meses e dança da seca por outros seis.
Essa noite sonhei que conseguia voar. Tipo Mary Poppins, simplesmente estava em pé e de repente BAM, desprendia do chão e subia.

O interessante foi o que o eu-onírico pensava disso: "mas é impossível, como eu consigo voar? como eu consigo controlar o voo e não tombar, como é isso de voar em pé?"

Psicanalistas, deitem em rolem ok. Não estou tentando entender o sonho, mas encontrei uma "moral da história" mais ou menos assim:


1- Quando consigo pela primeira vez na vida voar, tem que ter um pensamento derrotista


2- Voar não é estranho, mas voar em pé sim. Ou seja: até que eu posso voar, mas do jeito certo


Achei auto-crítico.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Já te aconteceu de parecer que todo mundo te olha quando você passa, como se todos conseguissem ler pensamentos e soubessem todo o furacão que está por baixo da tua plácida aparência?

Ontem e hoje estou com essa impressão. E confesso que estou com um puta medo de alguém chegar e perguntar 'hey, o que aconteceu para você estar com essa cara?'

Eu desmontaria.

domingo, 25 de setembro de 2011

Juro que a crise de choro de sábado não foi puro drama. Tive motivos, senti minhas culpas; aliás, sentir culpa é uma velha constante para mim. Sentir-se responsável pela ruína de outra pessoa não é fácil. Sentir que você possui o toque de Rei Midas, só que ao contrário, transformando em cocô tudo o que toca. Sabem esse sentimento? Então. E eu digo uma coisa: esse sentimento seria pura loucura se eu não tivesse, realmente, prejudicado alguém seriamente.

Talvez seja pior isso do que fazer o drama da personalidade histriônica. Se fosse drama era só não dar atenção que passava. Eu não queria atenção. Eu queria que o mundo sumisse da minha frente. E ainda não sei se essa vontade diminuiu, sendo sincero.

Sinal de que talvez eu precise um psiquiatra também. Ou uma camisa de força e eletroconvulsoterapia.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Dureza é aguentar o blablablashiniashikipaulocoelhocarpinejarblablabla toda sexta-feira. Chefe criou um hábito de todas as sextas ter um café da manhã, como um pretexto para se reunir dentro do trabalho para não falar de trabalho. A iniciativa é legal? Aaaaaaaaté que é... porém:

1- A colega que trouxe o aromatizador para fazer propaganda do produto que ela vende perfumar o setor faz uma dinâmica de grupo em todas as sextas;

2- Eu ODÍO dinâmica de grupo;

3- Eu TETESTO esse clima amistoso fake, em que todo mundo finge que gosta de todo mundo;

4- Eu NUM SUPURTU as rasgações de seda e babações de ovo semanais;

5- O chefe do chefe foi convidado para os cafés da manhã de sexta e esse homem me dá pânico.pavor.calafrio.micagotodo.

Querem tomar café da manhã coletivo? Beleza, só não me peçam para ser animado, festivo, amistoso e de bem com a vida.
Ontem a colega altruísta, que trouxe os aromatizadores para o setor e foi aplaudida por todos, trouxe sorvete para todo mundo. E não foi para fazer propaganda do produto.

Eu chorei.

Vai, Juliano, sentir-se culpado por tudo na vida.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Onde foi que eu me perdi? O que aconteceu de errado comigo que eu regredi tanto?

Ou eu nunca fui bom, sempre fui uma bosta e agora que estou me dando conta?

Conversei com um ex, para tentar obter informação sobre como eu era na época em que estávamos juntos... ele disse que tive muitos momentos bons, mas os que ele lembra com mais vivacidade são as vezes que eu esculhambei com tudo...

Ele disse que não lembra de mim tendo crises de ciúme, o que já é um sinal de que em algum momento da minha vida eu fui competente em ter auto-estima. Mas que eu sim o desrespeitei de muitas formas.

Doeu saber disso. Pedi desculpas. Ele respondeu apenas "o tempo cura". Sorte minha, porque sou ineficiente em me redimir pelas minhas burradas.

A isso, ele respondeu: "pois é, eu sei disso rs". O golpe de misericórdia.
Você se engana muito se acha que ateístas não sentem culpa. Sentir culpa não depende de acreditar em um deus punitivo; sentir culpa depende de ter vivenciado suficientes situações em que seu erro foi escancarado na sua fuça, depende de todas as vezes que as pessoas te mostraram insistentemente que alguém foi muito ferido ou magoado por algo que você fez e, ou, falou. E sim, nesse sentido eu fui criado com MUITA culpa.

O problema do sentimento de culpa é que ele, de fato, não muda nada a cagada que foi cometida. Não volta o tempo, não dá uma segunda chance de fazer melhor. Não para aquela cagada; o máximo que a culpa faz é evitar que novas cagadas sejam feitas. E sim, com 32 anos eu sei que o que a gente fala, as merdas incontroladas que falamos em momentos de conflito, têm muito efeito sobre os outros. Eu sei disso na teoria, eu sei disso na prática, eu sei disso pela formação científica, eu sei disso porque todo mundo fala.

Eu só não sei, de verdade, de coração, porque eu continuo falando e fazendo ofensas. Não sei mesmo.

Desculpa.
Por que eu sou assim? POR QUÊ?

=[
É lógico que quando me mudei para cá eu imaginava que muitas coisas seriam diferentes. Não melhores, nem piores, diferentes apenas. E foi o que aconteceu: uma linda troca de "aqui não tem isso, mas tem aquilo que compensa" e tenho sido relativamente feliz no último ano.

Nesse processo, percebi um negócio interessantíssimo: as maiores diferenças, as mais drásticas, parecem ser mais fáceis de se habituar. Sei lá por que, talvez por eu ser curioso e atraído por novidades, mas tenho adorado descobrir detalhes do local e do modo de vida daqui.

E por outro lado, as diferenças mais sutis têm sido mais difíceis de me acostumar. Aquilo que parece tão familiar, mas quando você vê de pertinho são diferentes, mais intensas...

Conclusão meio auto-ajuda: os pequenos detalhes são os que fazem as maiores diferenças.

(Você já foi menos piegas nos seus escritos, Juliano)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O mundo das cores anda me cansando. A colega trouxe perfume ambiente para o nosso setor, o chefe alardeando "olha como ela é atenciosa, trouxe perfume, tá sentindo esse cheirinho de lavanda? foi a fulana que trouxe" para TODO MUNDO QUE ENTRA na sala.

E olha que eu não odeio as pessoas envolvidas no episódio. Só tenho horror a esse mundo em que qualquer.pessoa.pode.ser.boa.basta.querer. Tenho medo de ser tudo Stepford Wives ou, como diz uma amiga muito querida, sepulcros caiados.

De onde vem esse medo, da minha mentalidade paranóica? Não. A colega dos perfumes, na verdade, trouxe o produto porque além de ser benevolente e pensar no bem estar de todos no setor, ela é representante da marca de perfumes e isso é uma amostra para caso alguém queira comprar os produtos dela.

Mundo das cores escondendo a vileza em preto e branco.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Definitivamente, minha paranoia não se resume às situações afetivas/emocionais. Ou familiares.

Há algumas semanas, soube que a administração superior do órgão em que eu trabalho iria discutir as atribuições do meu cargo.

www.morri.fuienterrado.ressuscitei.com.br

Já pensei em todas as perseguições das quais eu poderia estar sendo vítima, em todas as pessoas que me odeiam nesse serviço e me preparei para todas as teorias da conspiração subjacentes ao fato. Já estava até me imaginando sendo deportado para alguma micro-cidade na divisa com o Pará.

Aí hoje eu participei da reunião e a discussão foi algo que incluíram em pauta para que eu pudesse usufruir dos mesmos benefícios dos outros profissionais de saúde do órgão, como por exemplo a redução da jornada de trabalho.

Acho que não há ninguém que me odeia nesse serviço, então. E eu nem sou vítima de uma conspiração interestadual envolvendo o meu ex-empregador.

Vidinha besta essa sem paranoia.

domingo, 18 de setembro de 2011

Das 7485930 pessoas que fazem aniversário hoje, uma delas é uma história engraçada.

Ano passado, reencontrei uma pessoa com quem tinha ficado lá por 2006. Foi legal, catártico, pedimos desculpas pelos desencontros do passado e pá: rolou um começo de namoro.

Só que ele estava com tudo certo para se mudar para os Estados Unidos... tinha já o visto e tudo. Ok, foi o que passei a chamar de "namoro pré-datado": iríamos aproveitar ao máximo os poucos meses que nos restavam.

Acontece que nas três primeiras semanas foi tudo UM SACO. Sabe aquela pessoa que você liga quinze vezes e ele atende só uma? E ainda diz que não está a fim de ver você no dia? Então...

Resultado - acabei rompendo o contrato pré-datado antes do dia de ele ir embora.

Esse é o tipo de coisa que eu só vi na minha vida sentimental doentia.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sabe aquela tia que você só ouve falar e deve ter visto uma ou duas vezes em 30 anos, mas nem lembra da cara dela se a vir na rua? Aquela que você não sabe onde mora, quantos e quem são as dezenas de filhos dela? E que tudo o que você sabe é que ela não é exatamente uma pessoa altruísta, piedosa e, ou, preocupada com o bem estar dos outros?

Pois bem. Tenho uma dessas. E ela tem forçado contato com a família, especialmente depois da separação dos meus pais. E de saber que existe um patrimônio em partilha.

Palavra que define: MEDO.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

MORRO.DE.PREGUIÇA de gay homofóbico.

Recebi um email, repassado por alguém que repassou para outro alguém que repassLOOPING que, supostamente, é o depoimento de um gay desse tipo.

Ele fala verdadeiras pérolas de homofobia. Tais como dizer que ok ser gay, só não pode ser bicha, que nunca foi incomodado por causa da sua orientação sexual por não dar bandeira, por torcer pelo Grêmio, gostar de carros e saber trocar chuveiros etc., que bichas tudo bem serem discriminados, pois o simples fato de ser como são já incomoda a sociedade, que as bichas querem sim instalar um Reino Cor-De-Rosa em que tudo é festa e promiscuidade... não lembro mais coisas porque senti tanto asco que apaguei o email, mesmo antes de terminar de ler.

Sabe, poucas coisas me deixam mais Q do que um gay homofóbico. Nem mulher machista eu acho que me deixa tão perplexo. Nem negro racista. Tudo isso é uma merda, mas gay homofóbico é além do meu alcance.

Cada pessoa, cada cidadão de direito, pode ser DO JEITO QUE QUISER. Pode usar roupa esdrúxula, pode falar errado, pode ser pobre, pode gostar de sertanejo, pode fazer cirurgia de mudança de genitália, pode pôr silicone, pode pintar o cabelo de amarelo, vermelho ou azul. O que importa é que perante a lei TODOS SOMOS IGUAIS. Desde que nenhuma lei seja desobedecida, todos podem ser como quiserem.

Nada justifica o preconceito, a segregação, a discriminação. Nada justifica a violência contra qualquer tipo de pessoa. Gays homofóbicos são do mesmo tipo de gente que uma mulher que diz que a outra foi estuprada porque também, olha só a roupa dela? Está pedindo para ser violentada!

NÃO.

A única coisa que o autor desse texto que recebi esqueceu de mencionar é que gays NÃO PODEM SER HOMOFÓBICOS.

E ponto.
Minha habilidade para atividades artísticas, criativas e animadas beira a zero.

Hoje a equipe de trabalho decidiu fazer um "convite animado" para um evento que será realizado em outubro: cantar uma paródia.de sala em sala.entregando convite


Só consegui contar isso para vocês porque anotei tudo. Parei de prestar atenção na parte em que falaram a palavra "paródia".

Lembrei das vezes que tive que dançar quadrilha na escola, todo o sofrimento para conseguir fazer os passos e ainda fingir que o sorriso no rosto era natural, espontâneo, animado.

Não nasci para ser animado.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Quando fiz a disciplina de Psicopatologia, os veteranos me alertaram que eu iria achar que tenho todas as doenças estudadas. Sim, aconteceu e eu achei que era depressivo-neurastênico-histérico-obsessivo-ansioso-fóbico-paranóico-sociopata-etc.

Doze anos e duas psicoterapias depois eu me julgo maduro e equilibrado, capaz de assumir as rédeas da vida sem grandes sobressaltos, sem nenhum código de doença estampado na testa.

Ontem comecei a ler a CID-10, a classificação de doenças da Organização Mundial de Saúde. Encontrei pedaços de mim e cada um dos códigos F, os de doenças mentais. Só não achei o código da doença que a pessoa acha estar doente e não sabe se é só achar que está doente ou está doente de verdade.

Saco, não existe código para o que eu tenho.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Não consigo parar de pensar. Não consigo, simples. Eu vejo o mundo, com todas as suas lacunas, e é automático: estou completando-as. É horrível ser assim, é triste ser assim. Você não vive como deveria, a todo momento você se relaciona com ideias de como é o mundo e não como ele realmente é. E surpresa: quem criou essas ideias foi sua mente doentia e paranoica.

*pausa* NÃO ME ACOSTUMO COM A AUTOCORREÇÃO DIZENDO QUE O CERTO É PARANOICA E IDEIAS, TUDO SEM ACENTO *fim da pausa*

Minha paranoia, sim. Fiel companheira, guardiã leal que sempre me afasta das pessoas. Muito obrigado, você já cumpriu seu papel. Agora é hora de ir embora. Só não sei como te expulsar da minha vida, sua sapeca.
Na última sessão, meu terapeuta me puxou a orelha lindamente. Disse, de uma forma que só nós psicólogos sabemos, que eu devo assumir minhas responsabilidades e evitar máscaras para encobrir aquilo que, na verdade, deveria assumir.

Sou uma drama queen irresponsável.

Causa mortis: excesso de feedback.

Não é fácil lidar com a passagem do tempo. O presente te puxa para a realidade, o futuro, que ainda nem existe, acena dizendo onde você provavelmente não vai chegar e o passado... ah, o passado, sempre puxando a barra da sua camiseta, chamando atenção e mostrando “ei, você queria me esquecer, mas não vai consegui-ir”...

O passado é o mais malandro dos três. O mais visguento, grudento. Te prende, te define, te limita. Por mais que você mude de casa ou de cidade. Ou de estado. Ele sempre mostra sua cara. Não tem como esquecer e lidar com ele depende de você se forçar a lembrar muitas e prolongadas vezes.

Quero viver o meu presente. Queria fazê-lo sem interferência do passado. Merda, essa opção não está disponível.