terça-feira, 24 de julho de 2012

O tempo da louça

Foram 10 dias desde aquele último almoço em casa, feito por um para nós dois.

A assadeira com sobras de molho ressecado ficou sobre o fogão todo esse tempo, acumulando germes e mágoas. Os dois pratos com os rastros escuros testemunharam, de dentro da pia, pelo menos três crises de agonia e lágrimas e soluços. O fundo dos dois copos, escurecidos pelo resto de refrigerante de mais de uma semana, juntaram formigas e provocaram dores. Talheres, intermináveis e engordurados, estiveram ali o tempo todo, observadores silenciosos do luto.

O tempo ficou suspenso naquela pia, esperando o dia de voltar a correr livremente, como todos os tempos devem ser. Finalmente correu, junto com a água e o detergente. Tristeza e perda se lava com sabão e desce pelo ralo.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Sobre a composição dos relacionamentos

Existe toda uma cultura romântica, inaugurada na primeira metade do século 19, imputando a ideia de que o amor é o componente principal dos relacionamentos. Maldita Rainha Vitória que inventou de alardear que se casou por amor e não por conveniência. Maldita e mentirosa, porque todos sabemos que casamentos da realeza são sim acordos diplomáticos. Enfim.

Porém, tenho cá comigo, após diversas experiências de relacionamentos, que há algo mais valioso do que o amor. Aliás, nem vou entrar no mérito da discussão sobre o que é amor, renderia algumas dezenas de posts e comentários inconclusivos. Para a finalidade deste texto, pensemos no amor como um sentimento de gostar de estar com outra pessoa, vê-la, ouvi-la, rir e chorar junto com ela.

Pois bem, o que seria então mais importante que o tal amor?

Recapitulei, nos últimos dias, o que me manteve nos nove relacionamentos (quatro deles duraram mais de um ano) que tive e percebi o seguinte: sempre tive, pelo menos durante o namoro, profunda admiração pelo outro. Admiração sim eu me atrevo a definir: é aquele sentimento de olhar o outro e as coisas que faz/fez, diz, pensa e sente com aquela inveja boa, aquele desejo de ter para si o que o outro tem. De ser mais parecido com o outro.

Admirei muitas coisas nesses relacionamentos que tive: a determinação do outro em sair de um meio rural (tive um namorado que trabalhou em lavoura quando era adolescente e hoje é doutor pela UFPR), a paciência e a tranquilidade para solucionar qualquer problema sem precisar levantar a voz (namorei um cara que eu nunca ouvi gritar em mais de um ano e meio de relacionamento), a capacidade de se levantar após tragédias pessoais (um ex-namorado meu lutava pela sobrevivência financeira e emocional após a falência da família e a morte do pai, ocorridas praticamente na mesma época). Admirei a estabilidade financeira de um ex-namorado, na época eu me sentia um mercenário, desejando usufruir dos bens e benefícios do outro, mas no final das contas, a estabilidade era parte dele e da vida que ele levava, não é? Se é para amar alguém, amemos também suas posses.

E da mesma forma que a admiração me manteve nesses relacionamentos, quando acabou a admiração, acabou o namoro. O amor, por outro lado, permaneceu por muito tempo. Ouso dizer que, pelo menos dois ex-namorados, eu ainda amo. Admiro ainda, de certa forma, mas já sem o desejo de ter para mim ou de aprender um pouco mais sobre como ser semelhante ao outro. Desejo compartilhar sentimentos, rir e chorar junto, dizer palavras de apoio e conforto quando estão passando por dificuldades. Mas a admiração devotada, essa já se perdeu pelo caminho.

E então termino este texto com o seguinte questionamento anti-vitoriano: amor basta?

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Outra chance

Nunca quis lhe prejudicar com o meu comportamento, mas sei que seus sentimentos foram feridos pelos meus erros, ah como eu sei disso! Agora, apesar de todo o calor que faz por aqui, o meu coração entrou em um inverno profundo e a única coisa que espero é que você volte e me conceda o seu perdão. Procuro você de noite e a sua ausência me dói. Sinto sua falta, misturada com a dor do arrependimento... dizer adeus, por si só, é muito amargo... mais amargo ainda é dizer adeus a você.

Eu só gostaria que você voltasse, quero sentir o calor da sua pele. Estar sem você é um sofrimento muito cruel. Sei que posso viver sem você, mas simplesmente não quero isso.

Você duvida do que eu lhe disse e não o culpo por isso. Mas ainda vive a esperança que você volte e me outorgue o seu perdão.

Me dê outra chance, para que veja o quanto me esforço para mudar de verdade. Seu amor me faz falta, dói de verdade.

Volte.