sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Vamos falar em morte? Sem tristezas nem preconceitos?

Seguinte: com o avanço dos anos, é lógico que cada um de nós está mais próximo, pelo menos estatisticamente, do fim da vida. E por mais que seja um tabu, uma dor, uma ferida, uma perda etc., a morte é *ATENÇÃO PARA O CLICHÊ DOS CLICHÊS* realmente a única certeza que qualquer ser humano pode ter a respeito da sua vida.

(Clichês existem e sim, muitos deles são verdadeiros. Me processem)

Enfim, por mais que nós, assim como alguns personagens míticos modernos das sagas O Senhor dos Anéis e Harry Potter, tentemos enganar a morte, um dia ela vem. E por que não pensar nela antes que aconteça?

O fato é que, devido a algumas condições de saúde pelas quais passei esse ano, tenho me percebido bem interessado no assunto. Encontrei alguns sites de planos funerários e fiquei intrigado (e confesso que até achei divertido) com a chuva de eufemismos para lidar com o assunto. Tais como:

"Plano de vida" em vez de plano de assistência funerária

"Local de descanso final" em vez de cemitério, urnário, ossário etc.

"Salão de despedida" em vez de capela ou salão mortuário

Além dos eufemismos, achei engraçados alguns termos e conceitos, tipo a lanchonete de um cemitério de Goiânia, batizada de "Café com Orquídeas". E este cemitério, é lógico, nem é chamado de cemitério, no site você encontra o termo "Complexo de Cerimoniais".

Como se quisessem maquiar a morte. Belos jardins à beira de um lago no centro do "complexo", vários pequenos quiosques pergolados com flores trepadeiras fazendo sombra, quase uma visão de um jardim inglês do século 19. As recepções das salas de velório parecem mais com consultórios de clínicas de beleza, com muito mármore e granito, não daqueles escuros, encontrados em cemitérios tradicionais, mas pedras brancas, bem polidas, carrara, travertino e similares.

Eu diria até que é quase como se quisessem que os familiares, amigos e eventuais puxa-sacos do morto pudessem passar uma agradável tarde em um SPA urbano, tomando chá com petit-four no jardim de inverno, debaixo do pergolado à beira do lago.

Não que a dureza e a tristeza da morte devam ser enaltecidas. Mas não acho de bom tom esse faz-de-conta que o morto só está repousando numa bela campina.

4 comentários:

  1. Primeiro: Já assistiu Six Feet Under? É uma série exibida até 2005 que acompanha uma família dona de uma funerária - mt bacana, aliás, pq eles reconstroem os corpos das pessoas antes de enterrar, tipo, a pessoa morreu numa colisão automobilistica, teve a cabeça partida em duas e eles restauravam, era massa. Lembrei da série pq nos primeiros episódios eram incluídas propagandas de produtos fictícios relacionados à essas atividades: creme de reconstrução facial que te dava uma pele luminosa e viva (rá!) e outras piadas do gênero, sempre envoltas em eufemismos mais assustadores que outra coisa.
    Mas cá entre nós: Considerando que ninguém sabe se existe ou não mais alguma coisa, não vejo problema em querer fazer soar como algo agradável. Não, nunca será uma experiencia tranquila (pra quem fica, evidente), mas ainda assim, acho que vale a tentativa.

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  2. Sou apaixonado por Six Feet Under, passou bem na época em que eu começava a ser gente adulta e moldou muito do que eu penso a respeito de assuntos sérios como família, afetividade e morte, claro. Mas confesso que sou meio como o Nate: fico impressionado com todo o silêncio a respeito do assunto, acho muito válido a viúva que sobe no caixão e grita e chora "por que não eu antes?"... sofrimento deve ser sofrido para poder ser superado, pelo menos é como eu encaro...

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  3. Acho que as pessoas ficam a imaginar coisas boas para os mortos, porque na maior parte do tempo, não vivemos bem, não somos companheiros, não somos carinhosos, não damos devida atenção aos vivos. Então quando o tempo chega, aquela pessoa amada se vai, nos iludimos com diversas ideias sobre pós-morte. Nunca dizemos o quanto sentimos falta, nunca dizemos o quanto amamos, estamos sempre deixando pra outro dia na maioria das vezes.OU também seria culpa das mídias que nos oferecem plásticas, cremes, promessas de rejuvenescimentos? Ou então das religiões que pregam que vamos queimar no fogo do tal inferno? Afinal ninguém quer ver um amado seu no tal fogo eterno do inferno, e sim numa bela e plácida campina.

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  4. Mas confesso que sou meio como o Nate: fico impressionado com todo o silêncio a respeito do assunto, acho muito válido a viúva que sobe no caixão e grita e chora "por que não eu antes?"... sofrimento deve ser sofrido para poder ser superado, pelo menos é como eu encaro... ²

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