quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A história da minha sexualidade

Lembro-me muito bem de algumas coisas da minha infância... de brincadeiras de fantasiar ser o que eu não era e isso tem muito a ver com o que a minha atual visão científica apregoa: meninos ou meninas, em uma idade muito precoce, fantasiam ser homens ou mulheres.

Sim, não importa se tem um pipizinho ou uma xoxotinha: a criança vai fantasiar ser algo que não é, algo maior e mais poderoso, mais capaz de enfrentar o mundo DRAMÁTICO da infância, seja essa figura heroica um homem ou uma mulher. E isso está ok, não é sinal de homossexualidade nem nada, sosseguem o facho aí, homofóbicos/religiosos/nazi-fascistas de plantão.

Lembro-me de imaginar ser um mago poderoso. Um cavaleiro com lança derrubando o oponente numa justa. Uma princesa trancada numa torre de um castelo. Um extra-terrestre meio homem meio mulher em missão de paz. Uma árvore falante mágica que não andava, mas fazia o bosque à sua volta funcionar com o poder de um encanto. Um robô. Uma leoa caçando no meio da savana. Uma fada rainha de um povo luminoso. Etc. Muitos etc.



Isso não tem exatamente a ver com sexualidade. Tem a ver com identidade de gênero. Sexualidade tem a ver com o pipi ficar durinho, quando eu tinha lá meus 8 ou 9 anos. Lembro-me de brincadeiras com coleguinhas da escola em que eu era um pai de família e só de pegar na mão da minha esposa-em-fantasia, PÁ: uma ereção. Acho que o nome da colega era Cibele (não confundir com Ana Cibele, uma colega que tive anos mais tarde, já na adolescência, quando morei na Bahia), uma guriazinha de pele morena muito destoante da maioria das gurias do oeste paranaense, de cabelo castanho claro, longo e cacheado. Eu já a achava muito bonita na época. Padrões de desejo.


E lembro-me também da primeira vez que PÁ: rolou uma ereção com o toque de um menino na minha mão. Era 4ª série, Escola Gabriela Mistral em Palotina-PR, 10 anos. Eu não lembro exatamente porque, mas eu fazia algum tipo de mimimi de medo durante a aula (HAHAHA, padrões de comportamento!) e o coleguinha que sentava à minha frente, um ruivo sardento, lábios finos e voz estridente, virou-se para mim e agarrou a minha mão sobre a carteira: "(insira aqui um sotaque oeste-paranaense) PARE! NÃO PRECISA ISSO TUDO!"

PÁ!

Desde então, foi cada vez mais frequente sentir tesãozinho por meninos. Depois por "adolescentos". E eu achando que era uma fase, que poderia ter tesão por meninas. Tentei muitas vezes fantasiar-me casado, com filhos, fazendo uma viagem por uma estrada serrana numa perua cheia de crianças e malas. Tive uma namorada dos 15 aos 18 anos que era virgem quando nos conhecemos. Terminamos o namoro com ela virgem.


(DESCULPA, VOCÊ ERA LINDA E MEIGA E PERFEITA, MAS O LANCE ERA COMIGO E NÃO CONTIGO)

Tive relacionamentos com homens, já no final da adolescência. Pele, tesão, sexo, suor. Prazer. E achava que minha vida seria assim: apaixonar-me por mulheres e sentir tesão por homens. Sem eu saber, replicava um padrão já experimentado e socialmente solidificado pela humanidade na Grécia e em Roma Antigas: heterossexualidade por ser o que precisava e homossexualidade por ser o que desejava.

Até eu me apaixonar por um homem e meu castelinho de fantasia desmoronar. Eu tinha 18 anos. Nunca mais fiquei com mulheres.

Hoje eu não me fantasio mais como sendo uma princesa ou rainha. Sou homem, minha identidade de gênero é masculina. Masculina até demais, sei que replico muito do machismo em que fui criado. E meu desejo é por homens.

Lidem com isso.

14 comentários:

  1. Gemt, deu vontade de falar da minha vida pregressa agora, mas se for falar disso no meu blog, vou causar mais polêmica que já causei em todos os meus (curtos) anos de twitter!

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  2. Hahaha! Eu ocultei, propositalmente, algumas coisas dessa minha história... não sei se alguns dos coleguinhas de brincadeirinhas de infância leem o blog, se são héteros ou homos hoje, se são homofóbicos ou se, simplesmente, não gostam de ter suas histórias expostas... então né? Só contei o que seria mais poético e mais bem aceito!

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    1. É isso aí, o jeito é contar só os milagres e ocultar os "santinhos". ahahahaha

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  3. "(DESCULPA, VOCÊ ERA LINDA E MEIGA E PERFEITA, MAS O LANCE ERA COMIGO E NÃO CONTIGO)"

    HAHAHHAAHHAHAHA queria dar um abraço nela e dizer que entendo.

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  4. Eu na verdade não gosto de aplicar generos às pessoas. Acho que a gente tem é de amar/ sentir tesão por uma pessoa, independentemente de ele/ela ter um pipi ou, como diz minha vó, uma periquita. Eu já me senti mentalmente atraída por algumas mulheres e sexualmente atraída por homens. Adoro seus textos, Ju. Me identifico (a meu modo) com muitas coisas

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  5. adoro vc Ju, pelo q vc é, autêntico!!! e corajoso... bom vc compartilhar parte da sua história, muita gnt pode se identificar, e outras poderão entender q não é uma escolha consciente como muitos acham e que causa sofrimento pessoal até a aceitação de si mesmo. e que independente do que gosta, homem ou mulher, todos são seres humanos com uma vida toda pela frente!!!

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  6. Juliano, gostei desse post. kkkkkkk PÁ. kkkkkkkkk
    Então, me identifiquei de querer ser pessoas grande. Eu queria ser a xuxa quando era pequeno. ;D
    Questão de pá com meninas e pá com meninos, só aconteceu pá com os meninos. Já falei que era apaixonado por uma menina, mas sei lá o que era.
    Que bom voce ter compartilhado isso. Me identifiquei com muitas coisas.

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  7. Adorei seu texto. Como sempre escrevendo sobre homossexualidade de forma tão espontânea que só me faz admirar cada vez mais a pessoa que você é! :D

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  8. Lembrei de você (por ser psicólogo e guei) lendo um estudo que foi feito com um rapaz que foi operar de fimose ainda criança e aí o médico fez dele mulher e bla bla bla e no fim das contas prova que guei nasce guei e fim, você já viu???
    =*

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  9. Pois é dos nossos 15 até agora já são 17anos...E nós continuamos lindos! Bom...sempre foi muito especial!E acho que essa coisa de namoro de virgens já era uma raridade na nosa época hehehe! Mas a parte do perfeita já é exagero!!!bjos

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  10. Q bonitinho ela respondendo... e que texto foda hem Sr. Juliano... adorei e virei leitor...
    Depois quero a história sem censura hem hehehehe

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  11. Muito linda a história amigo... Parabéns...

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  12. amigs, como eu já disse no tuinto, quando eu era pequena eu imaginava que era adotada e isso explica (talvez, sei lá, o pigilógico aqui é ocê) um pouco do meu jeito arredio e da falta de vontade de lidar com as coisas, ou não explica nada, eu que arrumo desculpas, kkkkkkkkkkkkkkk!

    mas eu divaguei. o que eu queria dizer é que, quando pequena, tive experiências com amiguinhas e com amiguinhos e na época num gostei de nada, mas acho que foi importante, por algum motivo, sei lá.

    sei que hoje que eu sou louca pra ter experiências com os amiguinhos, nenhum deles quer, acho que eu era mais gostosa quando pequena, rysos.

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