terça-feira, 28 de agosto de 2012

Memoirs de um viajante

O plano original era uma viagem a dois. Começou por uma brincadeira, encontramos uma super promoção de passagens e depois fomos ver para quais destinos se aplicava. E depois de compradas as passagens, veio a lembrança de que a viagem coincidiria com o 2º aniversário do namoro. Lua de mel em Buenos Aires.

Buenos Aires. Ah sim, essa terra que tanto amei todas as vezes que fui.

Cada ida a BUE foi uma experiência diferente; diferentes visões e diferentes ações, gerando diferentes memórias e sentimentos.

A primeira ida foi de carro: quase 2.000km, quatro pessoas. Problemas com o seguro do carro na travessia pela fronteira, atraso de mais de duas horas para ser liberado pela imigração. A foto debaixo da bandeira argentina, ostentando o passaporte carimbado com o primeiro visto (desnecessário, entra-se na Argentina apenas com a Identidade brasileira). A estrada, as paisagens, o chaco, a ponte em Paso de Los Libres/Uruguaiana, "Regionales Maria", la más grande tienda de artículos regionales de Argentina, o bife de chorizo em Concordia (até hoje é o melhor que já comi em todas as viagens), a Autopista Panamericana entre Zárate e a Capital Federal (velocidade máxima de 130km/h e eu acelerando o que podia o meu popular 1.0, para aproveitar que eu simplesmente podia correr)... o trânsito em BUE, as dores de cabeça das discussões entre os quatro viajantes, a Noche de Año Nuevo na Praça Manuel Dorrego, os passeios de trem e barco pelo Delta do Tigre e a balsa até Colonia del Sacramento (Uruguai). Teve sabor de descoberta, de novidade.

A segunda ida foi com ex-colegas de trabalho. 24h de ônibus, a maneira mais em conta de chegar em BUE. O café da manhã servido no ônibus, o jantar em Posadas (com direito a vinhos, champagne e demais bebidas, tudo incluso no preço da viagem). A volta das Madres de la Plaza de Mayo, emocionantes senhoras que pedem justiça pelos seus filhos mortos pela ditadura, o congresso que deveríamos ter ido (risos), a Marcha del Orgullo LGBT. A semana inteira tomando apenas cerveja, a desidratação (mais risos), a manteiga de cacau para curar as rachaduras no lábio em vez de tomar água (muitos mais risos). Martín... Christián... Maurício...

A terceira ida foi sozinho, de ônibus novamente. Fui para acertar os ponteiros com uno de los chicos acima mencionados. Íamos nos casar, já que Buenos Aires foi a primeira cidade da América Latina a regulamentar o casamento homoafetivo. Conheci a casa em que moraríamos, a família dele. Passeamos por San Isidro e Acasuso, destinos românticos populares da capital. Era primavera, a cidade estava repleta de flores. Mas no fim, acabou não dando certo; as mensagens de saudade e carinho sumiram, el chico desapareceu.

A quarta vez foi agora, este mês quase no fim. Era para ser uma espécie de lua de mel. Uma briga, pouco mais de um mês antes da viagem, pôs fim à viagem a dois. Pôs fim ao relacionamento, também. Viajei sozinho, outra vez. Agora, com a tristeza da solidão e do desafio de pensar sobre a vida, sobre mim mesmo, quem eu sou e para onde quero ir. Os novos amigos e amigas, feitos nas noites de vinho no hostel. Os passeios à pé, com o vento frio do inverno, cortando a pele, gelando os pulmões. Os sinos do campanário da Legislatura, repicando La Cumparsita ao meio-dia. As lágrimas de emoção ao ver os porteños dançando como podem para sobreviver às crises econômicas e políticas que os assolam há décadas. O museu do Cabildo de Buenos Aires, contando a história (talvez exagerada) de heroísmo da independência das Américas do colonialismo europeu.

Descoberta, diversão, romance e auto-conhecimento. Espero que a sensibilidade nunca me abandone. Espero que as lágrimas sempre me voltem aos olhos ao ver a lua crescente aparecer no céu no primeiro dia de viagem. Espero sempre me emocionar com os sons dos lugares por onde passo. Espero não criar cascas para o mundo e para as pessoas. Ojalá Buenos Aires sempre me sirva de lição de humanidade.

4 comentários:

  1. Ah, mas que lindo. Eu nunca fui pra fora do país. Na verdade, só sai do estado para ir até Minas. Duas semanas e pronto, voltei pra terrinha. Mas adorei conhecer Buenos Aires contigo. Parece ser bonito. E acho que, estando fora do nosso habitat, onde a gente olha e logo vê o conforto do conhecimento, ficamos mais sensíveis. Tudo nos acomete mais rapidamente. O que demoraria semanas pra entristecer ou alegrar, chega em no máximo duas horas.

    O bom é que se deixe viver as emoções, creio. Que seríamos de nós sem a experiência que nos encontra de frente?

    Beijo!

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    1. BUE é linda sim. Mas deve-se ir mais do que uma vez, já que a primeira sempre é para o roteirão turístico rs. Passado o roteirão, deve-se abrir os olhos e ouvidos para sentir a cidade. Vale a pena, sempre.

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  2. Sim, querido amigo, que a sensibilidade te acompanhe (nos acompanhe), que apesar dos pesares que por vezes nos cegam os olhos de lágrimas, que possas continuar pela vida não desistindo de se permitir momentos felizes em meio ao caos dos sentimentos e dos relacionamentos que se foram e dos que hão de vir.É a brincadeira do limão que a vida nos dá... (que limonada que nada, bão mesmo é vodka açúcar e gelo junto).

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  3. Por favor estou querendo uma passagem agora mesmo. Que isso! Post muy lindo!

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