quarta-feira, 10 de abril de 2013

Ki vagyok én?

O maior aprendizado científico, filosófico, humano e social que a formação em Psicologia me proporcionou é a compreensão de que as coisas só existem em relação. Não há nada que seja absoluto, nenhuma existência-em-si. As coisas existem? Sim, elas existem e essa afirmação (por vezes chamada de "visão positiva") é fundamental para a ciência tal como é conhecida. Mas o mais importante não é afirmar a existência das coisas e sim, qual é a relação entre as existências.

A antiga questão filosófica de que "se uma árvore cai no meio da floresta e ninguém presencia, é possível afirmar que ela caiu?" pode ser respondida tanto com "sim, caiu"  (se o fenômeno foi presenciado e registrado), quanto por "não se sabe". A meu ver, a resposta mais completa seria "depende".

Se a árvore cai, pode ser que não haja registro consciente/verbal/escrito/pensado feito por algum Homo sapiens sapiens. Neste sentido, pode-se dizer que, em relação ao montante de conhecimentos acerca da realidade, a queda de uma árvore não provocou impacto. Pode até ter caído, mas para que ou quem isso é importante? O que me parece é que a queda da árvore só faz sentido para (e se) provocou um start de relações e correlações com tudo o que há a sua volta. Depende das consequências que provoca para ser conhecida. Fenômenos físicos, químicos, biológicos e também psíquicos, sociais e humanos só fazem sentido em relação.

Parece simples chegar a essa conclusão e aceitar as consequências disso. Entretanto, as complicações apenas começam neste exato momento em que se admite a relatividade do mundo. Passemos para o campo da existência humana, tão aclamada e valorizada em todos os campos do conhecimento. Vamos imaginar um (possível) Sr. Oláh Géza, nascido em Sarkad, Condado de Békés, Hungria. Esta pessoa existe?

Sim e não.

Existe para quem o conhece. Existe para quem age/reage/interage(iu) com ele. Existe agora, que citei neste texto e agora que, pelo menos na forma de um nome escrito com oito letras no total, ele provocou impacto em quem neste momento lê meu texto. Para quem não leu e não interagiu com o Sr. Oláh, ele continuará a não existir.

Filosófico demais? Não. Pretendo não entrar no mérito da Análise Comportamental, mas para quem está familiarizado com a abordagem, é fácil perceber o quanto esta discussão também é científica e psicológica.

Ampliando um pouco mais a questão, remodelo a pergunta: "eu existo?" Existo para quem sofre as consequências do meu ser-no-mundo. Existo para mim mesmo, humano e dotado de autoconsciência (e minha autoconsciência só existe na minha relação com o outro, mas esta é questão para outro texto). Mas, com quase toda a certeza possível, eu não existo para o Sr. Oláh. Relação injusta essa, eu não existo para ele, mas ele passou a existir para mim enquanto escrevia este texto.

E vocês, existem?

Um comentário:

  1. O grande medo humano, que leva as pessoas a escolher serem presas as suas próprias dissonâncias cognitivas é justamente o fato de não haver a necessidade de uma ordem, um sentido, um objetivo para suas existências.

    As pessoas carecem dessa necessidade de acreditar que existe um grande motivo em elas existirem quando poderiam simplesmente "existir". Para aqueles que aceitam o fato de que eles simplesmente "existem", tudo fica mais fácil de entender.

    Nem tudo nessa vida têm motivos humanamente palpáveis de acontecer. A providência divina, tão aclamada hoje, nada mais é do que querer explicar que "alguém" viu a arvore caindo no meio da floresta, e assim elas próprias não precisam sequer lidar com essa reflexão, que é simplesmente uma analogia para a importância de nossa própria existência.

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