terça-feira, 6 de agosto de 2013

Sobre culpa e perdão (Capítulo 1)

Sentimento de culpa é algo infinitamente engraçado.

Trata-se, a rigor, do sentimento provocado por condições aversivas que nos são aplicadas quando nós, ainda crianças, somos punidos. Não qualquer punição: a culpa é especificamente aquele sentimento de dupla aversividade: uma por estar sujeito a uma punição e outra por termos ofendido ou magoado alguém que nos dá amor e carinho.

Aos poucos, não é necessário haver punição real para que venha a culpa: só pelo fato de se "saber" que tal ação foi danosa a alguém e que poderia ser punida, nos sentimos profundamente chateados por ter "pisado na bola". Da mesma forma, não é necessário que a ofensa seja a alguém que nos ame, nós nos tornamos capazes de sentir culpa por ofendermos desconhecidos. Ou até apenas por pensar em ofender. Deve lá ter sua função adaptativa, pois muitas cagadas são evitadas pela simples possibilidade de ocorrer a culpa.

Apenas pela complexidade deste sentimento, já é possível ficarmos entretidos horas e horas, avaliando se aquela culpa que sentimos por décadas é realmente necessária: será que desejar ou pensar que uma pessoa seria mais produtiva morta do que viva deve ser, obrigatoriamente, um mal? Será que eu, nos recônditos da minha privacidade, não tenho o direito de desejar ou imaginar coisas ruins aos outros? O que, afinal, é digno de ser punido, o pensamento/desejo ou o ato de ofender aos outros?

Obviamente há defensores do bem que dirão que sim, é possível "pecar até em pensamentos". Tenho um pouco de pena de pessoas assim, devem conviver com monstros internos inimagináveis, cercadas por muros altos e sólidos que as separam do belo e perfeito mundo que poderia ser destruído por sua maldade de coração. Evitar viver é, talvez, a forma mais eficiente de não sentir culpa.

Encerro essa postagem de forma um pouco sem sentido, mas ainda preciso de um tempo para processar minhas ideias sobre como é possível se livrar da culpa. Prometo voltar em breve com um novo texto.