segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Essa saudade

Se sentir saudade, permita-se ser cafona.

Sofrer pela perda de alguém é daquelas coisas que músicas, poesias, crônicas e histórias de ficção sempre descrevem como uma dor maior que o próprio corpo, insustentável. Não é, mas talvez seja melhor tratá-la como se fosse.

Se a perda é temporária, a dor logo se mistura com a ânsia quase infantil de ter outra vez por perto a quem se ama. A dor é substituída pela espera paciente, a qual é alimentada pelo desejo de recobrar a felicidade perdida. Dia após dia o sofrimento diminui, à medida que se aproxima a hora de ter novamente por perto o alvo do afeto.

Se a perda é definitiva, é só quando a pessoa se cansa de sofrer que o conformismo se faz possível. Se for colocado algo ou alguém no lugar vazio que fica, aí sim o sofrimento se esvai mais rapidamente. Mas para que o corpo fique exausto e seja possível reorganizar a vida para levá-la adiante, é preciso chorar muito.

Sofrer com todo o esplendor do pathos romântico faz parte do processo de superação. Por mais que pareça ridículo, infantil ou dramático, é só assim que a dor passa. É necessário sofrer para que a esperança seja alimentada pelo desejo de reencontrar o que foi perdido. É necessário sofrer para que sobrevenha o cansaço que a tristeza causa e, só assim, as mangas sejam arregaçadas e as mãos postas em outro trabalho ou pessoa, tanto ou mais prazerosa que a perdida.

Portanto, quando sentirem saudade, sofram. Ouçam músicas com as letras mais explícitas sobre sentir falta de alguém, cantem junto, encharquem a boca com as lágrimas que escorrerem, mas por favor, sejam o mais cafona que puderem.



"Eu sinto sua falta, meu amor
A dor é tão fria como um longo adeus
e sem você há um vazio dentro de mim"
(Laura Pausini - In Assenza Di Te)